Aliança também chamou para as 24 horas de solidariedade feminista internacional por mais vacina, pelo direito à saúde e contra as Transnacionais no dia 24 de abril
Representantes Amigos da Terra Brasil (ATBr), da Marcha Mundial de Mulheres (MMM), do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e do MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores) participaram de um debate virtual veiculado pelo jornal Brasil de Fato na noite desta quarta-feira (14/04) para falar sobre as ações solidárias organizadas pela Aliança Feminismo Popular no Rio Grande do Sul. A articulação, formada desde o final de 2020 por MMM, MTST e ATBr, se organiza a partir do contexto de empobrecimento social e descaso estatal com as crises sistêmicas que se aprofundam com a pandemia do coronavírus.
A aliança se forma a partir do entendimento de que a organização popular é a resposta para enfrentar as múltiplas crises que o sistema capitalista impõe. Além da reflexão de que é preciso construir iniciativas emancipatórias populares para buscar uma recuperação baseada na justiça frente à pandemia do coronavírus, priorizando ações de combate à fome.
No último sábado (10/04), foram entregues cestas de alimentos a famílias do Morro da Cruz e da Vila Nazaré em Porto Alegre (RS). Mais de 130 famílias foram beneficiadas com os alimentos adquiridos junto a pequenos agricultores do MPA e do MST (Movimento Sem Terra). Além de verduras e frutas agroecológicos doados pelos feirantes da Feira dos Agricultores Ecologistas de Porto Alegre.
A entrega das cestas integra uma das frentes prioritárias da Aliança Feminismo Popular, que é o combate à fome agravada, neste momento, pela crise econômica e a pandemia do Coronavírus. No entanto, as ações das mulheres vão além. A articulação e a comunidade no Morro da Cruz estão viabilizando um terreno no local para a construção de hortas comunitárias. Em parceria com a Aliança, o MTST está reativando a cozinha coletiva na Ocupação Povo Sem Medo e busca a ampliação deste trabalho relacionado à alimentação digna e saudável das comunidades periféricas com o lançamento, em breve, de uma cozinha solidária em Porto Alegre. “Entendemos que o espaço de uma cozinha e de uma horta coletivas, de reflexão sobre a alimentação saudável, traz uma pauta política muito importante. As cozinhas, pra nós, não são lugar simplesmente de entrega de marmita, mas de construção do poder popular”, afirmou Karol Bitello, do MTST.
Outras formas de viabilizar o sustento das comunidades mais pobres visando uma alimentação saudável, entre elas políticas de governo como o retorno do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos do governo federal) e uma renda emergencial justa neste período de pandemia do Coronavírus, também são lutas das mulheres da articulação. Juliana Motta, do MTST, relatou a situação precária das 60 famílias da Vila Nazaré, que resistem à remoção forçada, por parte da prefeitura e da transnacional FRAPORT, para conjuntos habitacionais longe de suas moradias atuais junto ao aeroporto Salgado Filho. “A fome bate na porta das milhares de famílias que passam fome. Se antes se sentiam abandonadas pelo Estado, agora já nem existem, o problema já foi solucionado, segundo eles”. Para pressionar as famílias a deixarem a Vila Nazaré, a prefeitura já cortou a água e a luz, retirou unidades de saúde e escola e desativou os galpões de reciclagem, fonte de renda para muitos, boa parte mulheres chefes de família, que ali ainda moram.
Mesmo durante a pandemia a empresa e a prefeitura permaneceram forçando as remoções na Nazaré. As violações de direitos da Fraport e o abandono da prefeitura foram denunciadas pela Amigos da Terra Brasil no Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), que solicitou o respeito aos termos da Resolução nº 10, de 17 de outubro de 2018 e a “suspensão provisória da realização das audiências conciliatórias em centro de apoio até o término da crise sanitária de covid-19”.
Por meio de ações conjuntas de solidariedade de classe entre campo e cidade, fortalecendo relações de comércio justo e as próprias lutas das trabalhadoras e dos trabalhadores do campo e promovendo alimentação digna e saudável na cidade, a Aliança Feminismo Popular questiona a organização da nossa sociedade. “Acreditamos que a organização popular é a única resposta possível para enfrentar esta crise. Uma crise estrutural que tem sua origem num sistema desenhado para, a partir da acumulação do capital, ter como pilar e se reproduzir e se fortalecer com a exploração e a opressão”, afirmou Letícia Paranhos, da Amigos da Terra Brasil.
24 horas de ação global em 24 de Abril: mulheres na luta por vacina, pelo direito à saúde e contra Bolsonaro e o neoliberalismo
No debate da noite desta última quarta, as representantes das organizações também falaram sobre a próxima agenda de luta da Aliança Feminismo Popular em 24 de Abril. Mulheres de todo o mundo estarão mobilizadas por 24h exigindo a quebra das patentes das vacinas, pelo direito à saúde e contra as Transnacionais, que tanto exploram os trabalhadores e quebram os comércios locais.
O 24 de Abril se tornou um dia de luta desde 2013, quando 1.138 trabalhadoras e trabalhadores morreram e outros 2.500 ficaram feridos em decorrência do desabamento de uma fábrica têxtil em Bangladesh. Um dia antes o prédio tinha apresentado rachaduras e, mesmo assim, os patrões obrigaram os trabalhadores a irem trabalhar. Cerca de 80% das pessoas que morreram eram mulheres. Cláudia Prates, da MMM, ressaltou que até hoje não houve Justiça para as vítimas e suas famílias, e as corporações prosseguem impunes e explorando cada vez mais as pessoas e a natureza. “A partir de 2013, a Marcha Mundial de Mulheres tomou este dia para fazer uma grande reflexão e lutar contra a exploração das trabalhadoras e dos trabalhadores pelas transnacionais”, disse.
Neste ano, no Brasil, as 24h de Solidariedade e de Ação Feminista Internacional foca ainda a saúde, a luta pela vacina e se coloca contra Bolsonaro. Tica Moreno, também da MMM, aponta que a pandemia escancarou o conflito do capital contra a vida. “A gente fica indignada com os empresários brasileiros aplaudindo o Bolsonaro e esta política de morte e com o lucro das empresas transnacionais. A gente sabe que os donos do capital estão lucrando com a pandemia e que este lucro só é possível com a exploração do trabalho e com este modelo de agronegócio que envenena e expulsa as pessoas de seus territórios, destruindo seus modos de vida”, criticou.
Uma questão central deste 24 de Abril, explicou Tica, é a luta do Brasil e dos países pobres da parte Sul do mundo pelo direito à saúde e acesso às vacinas. Neste momento da pandemia, em que a distribuição da vacina está concentrada nos países ricos do Norte, é fundamental quebrar as patentes das grandes farmacêuticas a fim de baratear o custo dos medicamentos e da vacina aos países mais pobres e aumentar a produção do imunizante contra o COVID-19. “Sabemos muito bem que quando não se tem saúde pública, é o trabalho e a energia das mulheres já sobrecarregadas [que é afetado]. É este cuidado que sustenta a vida frente a um Estado que não cuida e a um mercado totalmente explorador e violento. Esta é uma luta feminista porque não tem como ter igualdade e justiça, não tem como acabar com a opressão das mulheres e com o racismo sem acabar com o capitalismo e com o poder das transnacionais”, disse ela.