Desde sexta-feira, dia 27, 20 famílias Guarani Mbya retomaram a área da Fepagro (Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária), no Município de Maquiné, litoral Norte do Rio Grande do Sul. Os indígenas estão criando uma aldeia no local e reinvidicam a demarcação da área. Segundo o Cacique André Benites, a retomada é uma luta pelo futuro, pela preservação do espaço e pela perpetuação da cultura Guarani, mas também é uma luta pelo passado, pela memória dos ancestrais que ali viviam até mesmo antes da chegada do europeu e da intervenção do Estado. “A gente não está invadindo, só entramos em território que já era nosso. Por isso retomada”.
Segundo o Cacique José Cirilo, os guaranis nunca tiveram seus direitos totais garantidos. “O povo Guarani sofre muito, muitas famílias pela beira da estrada ou em pequenos pedaços de terra, o que nos faz sentir que estamos jogados. Para nós é importante esta retomada, estar dentro da mata, sermos livres”. A Fepagro é uma das fundações que está em processo de extição com os pacotes de cortes do Governador Ivo Sartori. “Se vai ficar na mão dos políticos, essa área vai ser um condomínio. Então nós queremos preservar. Por isso nós retomamos, porque queremos salvar os animais, os passarinhos, a água boa que corre aqui”. Cirilo é cacique da Aldeia Tekoa Anhetenguá, na Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre. Assim que foi retomada a terra em Maquiné, se somou em solidariedade. “Tenho neto já. Com uma pequena área dentro da cidade de Porto Alegre não tem condições de ser criado dentro da cultura dele. Sou solidário aqui porque vai ampliando o território dos Guaranis, porque vamos ter mais acesso a viver na nossa cultura. Hoje vivemos em pequenas áreas como um passarinho cercado”. Até o começo da noite desta segunda-feira, nem a Funai, nem qualquer órgão público fez contato com os indígenas.
No Vale de Maquiné, local rico em Juçara e território com Mata Atântica, o Cacique José Cirilo, vê a área como um espaço muito adequado para o modo de vida Guarani. “Tem água boa, várias frutas que vão alimentar as crianças, frutíferas, nativas, araçás. Tem a riqueza da nossa cultura. Nunca os governos nos deram uma área boa como essa. Nos dão terras já usadas, que não servem mais para nada. Penso muito no que os Governos fazem. Nos tiram de territórios guaranis, nos jogam para a beira da estrada e sem condições, sem conseguirmos continuar com a cultura. Colocam limites, cercas, fronteiras. Tirando o nosso território. Nós queremos pelo menos um pedaço e a terra adequada. Essas políticas deveriam pensar, porque somos povos originários e donos da terra. Nós queremos que tenham respeito pela nossa cultura e pela nossa tradição”.
O Cacique André indica que qualquer doação é bem-vinda, principalmente alimentos, lona, roupas, ferramentas. O Amigos DaTerra Brasil (Rua Olavo Bilac, 92 – Cidade Baixa – Porto Alegre) e o Bar da Carla (Rua Lobo da Costa quase esquina com a José do Patrocínio) são pontos de coletas. Qualquer dúvida, entre em contato aqui pela página.
Fotos Douglas Freitas/Amigos da Terra Brasil.