Conforme dados do Sistema de Informações de Agressões a Defensores de Direitos Humanos (SIADDH) da organização Somos Defensores, de 2016 a setembro de 2018 295 defensoras e defensores dos direitos humanos foram assassinados e outros 1046 sofreram ameaças na Colômbia.
Em função disso, a melhor forma de proteger aqueles que estão ameaçados neste momento é os transformando no centro das atenções e compartilhando suas ideias com o mundo, para que todos possam entender que suas lutas transcendem as suas comunidades, porque eles simplesmente têm “vozes a prova de bala”.
Este é o nome da campanha que toma os discursos de 11 defensoras e defensores dos direitos humanos que estão ameaçados na Colômbia. Com trechos de suas falas e ilustrações que remetem a elas e eles, busca-se que as vozes destas mulheres e homens cheguem a todo o mundo para que suas ideias tomem vida e possamos compreender que suas lutas cotidianas beneficiam ao país e ao continente latino-americano como um todo.
Esta iniciativa, realizada pelo programa não governamental de proteção a defensores de direitos humanos “Somos Defensores”, com apoio de artistas e meios de comunicação, mostra a diversidade de defensores de direitos humanos, ressaltando os defensores comunitários, regionais, dos direitos ambientais, de mulheres, de jovens, dos trabalhadores, das comunidades campesinas, indígenas, quilombolas, LGBTQ, entre outros.
A Amigos da Terra Brasil, em parceria com a Radio Mundo Real, somam-se a difusão desta campanha para dar voz aos defensores do campo e da cidade que lutam cotidianamente, superando o medo, a falta de garantias, riscos e agressões iminentes a que estão expostos.
Na sequência, a história de Marta López Guisao, representante de comunidades vulneráveis en Urabá Chocoano e Antioqueño (no noroeste da Colombia), vítima da ação de milícias e do controle do exército na Comuna 13 de Medellín durante a operação Orión. Sua irmã Alicia López foi assassinada em 2017 com seis disparos.
“Meu nome é Marta Lopez Guisao, sou de origem campesina. Meu envolvimento como líder social e defensora dos direitos humanos iniciou ainda muito jovem no município de Apartadó; ali iniciei uma sequência de ações. Fui professora voluntária de 150 meninas e meninos que não tinham este direito garantido. Em 1992, sofri meu primeiro despejo por ameaças e atentados contra minha vida.
Na cidade de Medellín, segui meu trabalho de liderança no bairro em que vivia. Um bairro que se formou a partir da recuperação de terra, e onde, por isso, não havia investimentos do Estado. Nesta comunidades começamos a resolver nossas próprias necessidades e garantir os nossos direitos. Foi assim que construímos o colégio em que fui professora voluntária. Construímos um posto de saúde, escoamento de esgoto, um parque e uma cancha poliesportiva. Infelizmente, fomos surpreendidos pela Operação Mariscal e pela Operação Orión, em que nos declararam como alvo militar, cujo fim era assassinar toda a nossa família, pois todas somos líderes sociais e defensores de direitos humanos.
Saímos de Medellín. Fui trabalhar nas comunidades do sul de Bolívar na zona mineira. Ao sul, por San Pablo, uma incursão do exército junto a milícias sequestraram uma família. Os encontramos em dois acampamentos de milicianos onde nos maltrataram e me apontaram um fuzil. Em Bogotá também sofri perseguições, o que me levou a sair do país por vários anos.
Quando voltei, fui trabalhar com as comunidade em Chocó. Depois de 15 anos longe de Medellin e do bairro em que fomos despejada, assassinaram minha irmã Alicia López Guisao, em 2 de março de 2017. Novamente somos ameaçados e sou obrigada a sair de Chocó. Minha luta seguirá ainda que me persigam”.
Ouça o relato e leia a reportagem original no site da Radio Mundo Real!