Evento reúne militância para comemorar a vida e reafirmar a luta por soberania alimentar contra o uso de agrotóxicos
Reunidos para celebrar a vida, centenas de pessoas prestigiaram a 19ª Festa da Colheita do Arroz Agroecológico, na sede da Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan), em Nova Santa Rita (RS). Hoje, 18/03, a abertura oficial marca o início da colheita em que, segundo as famílias camponesas, estima-se alcançar mais de 15 mil toneladas, cerca de 310 mil sacas de 50 kg do produto com produção agroecológica. São mais de 3 mil hectares de produção sem contar com o uso de venenos.
João Pedro Stedile, membro da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), reforçou que o marco da produção agroecológica corrobora a luta ampla pela vida. “Talvez nunca tenha sido tão importante essa expressão tão simples ‘celebrar a vida’. A vida dos que resistem a essa pandemia, a qual um genocida levou ao cemitério 650 mil brasileiros, e celebrar a vida com tudo o que representa o arroz orgânico que vai à mesa dos brasileiros todos os dias”, afirmou o economista.
O movimento alcança hoje o título de maior produtor latinoamericano de arroz orgânico. Isso se dá porque no estado são cinco mil hectares de área com cultivo de arroz no sistema agroecológico, sendo que quatro mil hectares estão em áreas de assentamentos da reforma agrária. Em todo o estado, a produção do alimento é feita por 296 famílias, em 14 assentamentos, que se dividem em 11 municípios gaúchos.
Ocorreu hoje a abertura oficial, mas desde 1º de fevereiro já foram colhidas 4.200 sacas de arroz orgânico no Assentamento 30 de Maio, em Charqueadas. Além disso, o assentamento Filhos de Sepé, em Viamão, estima alcançar cerca de 124 mil sacas, sendo esse o maior assentamento em área plantada. Ao todo, o MST calcula a safra em 310 mil sacas, ou seja cerca de 15 mil toneladas. O número supera o último ano, quando foram colhidas 12 mil toneladas.
Produção agroecológica em luta pela vida
Stedile ainda reforçou em sua fala de abertura do evento que o MST tem sido a vanguarda na produção de arroz agroecológico há mais de 15 anos e que o movimento conseguiu provar que é possível manter a produtividade sem o uso de veneno. Argumento muito utilizado pelo agronegócio para abrir as portas para venenos, como é o caso do Projeto de Lei (PL) 6.299/2002, que tramita no Senado. “Inclusive, [o MST] provou para governos passados e futuros que a agroecologia é fundamental para produzirmos alimentos saudáveis para o nosso povo, que é a função principal da agricultura. Não tem sentido praticarmos agricultura, sendo agricultores se não for para produzirmos alimentos saudáveis”, sentenciou.
Vale lembrar que Nova Santa Rita, ao mesmo tempo que celebra a colheita do arroz agroecológico, é o município que faz fronteira com produtores de arroz convencional e trava uma batalha contra o uso de agrotóxicos pulverizados. Em pelo menos duas vezes, em novembro de 2020 e março de 2021, quando um atentado criminoso despejou substâncias químicas sobre as áreas de plantio orgânico, sobre pessoas, sobre a água e o ar que se respira, causando sintomas de dor de cabeça, ardência nos olhos e enjôo, além da perda da produção. No laudo produzido pelas famílias assentadas, só na primeira deriva estima-se que as perdas sejam de R$1 milhão.
Leonardo Melgarejo, o pesquisador e Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, frisou na abertura da Festa o impacto do uso destes químicos na biodiversidade: “os insetos são o grupo de animais mais importantes do ponto de vista da polinização e, estando ameaçados pelos agrotóxicos, eles nos indicam uma tendência rumo a destruição da humanidade”. Ele explica que o processo de desequilíbrio dos ecossistemas acabaria por ameaçar a segurança alimentar da humanidade. Ele lembra ainda que 40% das espécies de insetos podem desaparecer nas próximas décadas por uso de agrotóxicos. As informações completas estão disponíveis no Atlas dos Insetos.
O momento também foi de realizar um chamado aos assentados e militantes em defesa da sociobiodiversidade para participarem do II Seminário sobre os Polígonos de Exclusão de Pulverização Aérea de Agrotóxicos que ocorre 28/03, às 14h30 na AABB (Av Coronel Marcos, 1000), em Porto Alegre.
O evento contou com a participação de assentados de todo o RS e também estiveram presentes expositores que produzem alimentos agroecológicos e orgânicos de diferentes regiões do país. Além de representantes de diversas organizações populares e políticas.
Confira mais fotos: