1 ano do genocídio televisionado do Estado de apartheid de Israel na Palestina
No último ano, o mundo assistiu Israel cometer executar um genocídio televisionado em Gaza. A violência que reverbera na mídia desde 7 de outubro de 2023, há mais de um ano, não começou naquela data. É a continuidade do projeto colonial e racista do Estado de Israel, diretamente financiado pelos Estados Unidos e países europeus para promover limpeza étnica e apartheid social aos palestinos, a fim de defender seus interesses econômicos e de dominação política na região. A luta do povo palestino por sua autodeterminação e direitos é histórica. No marco de um ano, vemos a aniquilação quase total em Gaza, com milhares de mortos e moradias, hospitais, escolas, centros médicos e universidades tombadas pelo complexo industrial militar prisional, que é marca do Estado de Israel. O terror também se estende na Cisjordânia ocupada, e está estampado na invasão terrestre e nos ataques de Israel ao Líbano e na ameaça de escalada de violência no Irã.
Embora seja realidade há 76 anos, numa Nabka ampliada, o pesadelo real vivido pelo povo palestino tomou novas proporções no último ano, marcado pela ineficiência mundial, da Organização das Nações Unidas (ONU) e pelo multilateralismo internacional. Escolas, hospitais, ambulâncias e campos de refugiados palestinos foram bombardeados sem trégua pelo Estado de Israel. Gaza teve a luz e a internet cortadas. A falta de água e o bloqueio da chegada de alimentos, medicamentos, combustível e suprimentos para a população sangram o cotidiano no território, onde o povo palestino luta entre lonas e escombros para sobreviver.
De acordo com dados da mídia, desde 7 de outubro de 2023, bombardeios e invasões terrestres resultaram no assassinato de mais de 42 mil palestinos pelas forças militares israelenses em Gaza. A maioria das vítimas são mulheres e crianças. No entanto, contabilizando a fome, doenças, bloqueios na chegada de medicação e de assistência médica, estudo publicado pela revista The Lancet, renomada revista científica de medicina a nível mundial, aponta que o número de palestinos assassinados por Israel é muito superior ao divulgado, e estima que cerca 186 mil pessoas tiveram suas vidas ceifadas em Gaza.
O que está em curso desde o começo da Nabka tem nome: colonização. O genocídio palestino se intensificou do último ano para cá, com Israel expandindo seu território e ataques na região. Este é representado pelos interesses econômicos e geopolíticos imperialistas dos Estados Unidos da América (EUA) e países europeus, com destaque para Inglaterra, que não apenas são cúmplices, mas agentes do terror: financiam o poderio militar de Israel com investimento militar na casa de bilhões de dólares e euros. Governos e grandes empresas e corporações do Norte Global, especialmente dos EUA e da Europa, tornam possíveis os crimes do Estado de Israel armando, financiando e protegendo o estado sionista de sua responsabilidade. A parceria na desumanização do povo indígena palestino, assim como na repressão dele, também vem de meios de comunicação cúmplices. Acabar com essa cumplicidade é um imperativo.
Nesta semana de manifestações em todo o mundo, a Amigas da Terra Brasil (ATBr) denuncia o projeto supremacista do Estado de Israel e a impunidade corporativa por trás das violações de direitos contra o povo palestino. Condenamos os ataques contra o povo palestino e a ocupação ilegal de seu território pelo Estado de Israel, promovida com racismo, limpeza étnica, genocídio e apartheid, e nos somamos à campanha internacional pelo cessar fogo já! O massacre do povo palestino e a ausência de um fim real aos ataques militares afeta tanto a palestinos quanto a classe trabalhadora e a sociedade civil israelense, que vivem com medo e mobilizados pela liberdade de seus reféns, situação que não foi solucionada com o agravamento dos ataques à Gaza pelo Estado de Israel.
É urgente toda a nossa solidariedade ao povo palestino, que deve ser convertida em ações práticas de mobilização e pressão popular pelo cessar fogo e pelo direito de ser e de existir. A Amigas da Terra Brasil se soma à iniciativa do Movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) e convoca a quem quer o fim do massacre em Gaza e contra os palestinos a pressionar governos e desafiar megaempresas e instituições cúmplices dos crimes do Estado de Israel. Reforçamos o movimento de solidariedade global nos esforços de boicote, desinvestimento e sanções para isolar o apartheid israelense e suas instituições cúmplices em todas as frentes.
Cobramos que o Brasil e o governo de Luiz Inácio Lula da Silva assumam compromissos concretos em solidariedade ao povo palestino, rompendo as relações comerciais e militares com Israel. Não podemos aceitar que, após 124 países terem aprovado sanções a Israel na Assembleia Geral da ONU, incluindo o Brasil, apenas 3 países as tenham implementado: a Turquia, com a proibição da venda de petróleo, além da Malásia, que embargou o trânsito de embarcações com armamentos a Israel, e da Colômbia, que freou a compra de armas de Israel. No caso colombiano, se destaca também a posição do país em decretar o fim da exportação de carvão, fato que descontentou a Glencore, uma empresa multinacional anglo-suíça de commodities de mineração, conhecida por ser a maior companhia global de recursos naturais diversificados. A corporação não quer cumprir com a política de boicote à Israel do governo de Gustavo Petro e Francia Márquez, o que evidencia o poder das transnacionais, que não respeitam as soberanias dos Estados.
As mesmas armas que matam a juventude negra e da periferia no Brasil, assim como ameaçam territórios de vida aqui, vêm de Israel. O avanço da militarização na América Latina, seja no sistema prisional, na contenção de manifestações civis por direitos, no treinamento militar, na violência no campo contra o campesinato e contra indígenas e povos tradicionais que lutam por seu território, têm relação econômica e comercial direta com Israel. Gaza é a maior prisão a céu aberto do mundo e após bombardeios, com novas tecnologias testadas, Israel promove feiras bélicas e lança novos produtos de guerra no mercado. O disparo que crava a morte em corpos palestinos, do outro lado do globo terrestre, tem nas armas e nas balas o selo das mesmas empresas israelenses que fazem a morte aqui. Pela soberania dos povos e pelo direito de serem e existirem, essa conexão precisa ser exposta. A luta é pela Palestina Livre do rio ao mar, e conflui entre todos territórios que resistem.
As raízes de nossa esperança estão nas décadas de resistência do povo palestino, na ampliação do poder popular que vem das comunidades nos territórios e na solidariedade internacionalista. Entre outros significados, como resiliência, a palavra árabe Sumud significa “permanecer firme na terra”. É adotada como estratégia política de resistência, assim como forma de vida palestina, entrelaçada ao território. Para que a palavra seja viva, e pela dignidade dos povos e territórios de vida, seguimos na construção dessa luta e com os punhos ao alto pela Palestina Livre.
Cessar fogo já! Pela libertação do território e do povo palestino! Exigimos que o presidente Lula rompa relações comerciais e militares entre Brasil e Israel
Amigas da Terra Brasil, 10 de outubro de 2024