Retomada Mbya Guarani Nhe’engatu (Viamão/RS) comemora 1 ano de resistência e de existência


A Retomada Mbya Guarani
Nhe’engatu, na cidade de Viamão, no Rio Grande do Sul, comemorou seu 1 ano de resistência e de existência em 14 de fevereiro. Parentes, amigos e apoiadores, entre eles nós da Amigas da Terra Brasil, estivemos presente nos festejos para compartilhar mais essa realização do povo Guarani e fortalecer a retomada, exigindo junto a demarcação de mais esta terra indígena. 

Cerca de 25 famílias vivem na área da extinta Fepagro (Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária), utilizada para pesquisas agrícolas pelo governo gaúcho e, depois, por estudantes da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). A prefeitura de Viamão tem interesse na área pública, mas visando a construção de condomínios para moradia.

“Os anciãos iniciaram a caminhada há 102, 103 anos, buscando um território onde possamos, realmente, viver em paz. Que é o que mais o povo Guarani precisa, viver em paz, viver tranquilo no seu tempo, viver o dia e a noite no seu tempo. Sem pressa. Sem ter que cumprir regras dos juruá (não indígenas), viver o modo de vida Mbya. Acordar a hora que acordar, tomar o seu chimarrão, contar os seus sonhos para seus filhos, seus irmãos. No entardecer, sentar ao redor do fogo; contar piada, pro branco é pra rir, mas para nós é muita história. Há muita sabedoria numa piada. Meu finado avô Turíbio Gomes, a Tekoha é uma homenagem a ele, dar seguimento à caminhada que ele vinha dando, é dar continuidade aos sonhos dele. Ele está conosco espiritualmente nos protegendo, nos mostrando os melhores caminhos, as melhores palavras para se usar quando falar com o governo, a melhor tranquilidade para responder a esse sistema dos juruá, Queira ou não queira, fazemos parte desse sistema. E quando a gente reocupa território, tem todo um sistema jurídico que tenta impedir esse viver guarani, que se opõe à cultura guarani. Que diz que não podemos ficar nesse espaço porque é do Estado. Não tem humanismo nenhum no governo. Só o capitalismo. Que por mais que você tenha, quando partir desse mundo não leva nada. O juruá leva a vida toda trabalhando, defendendo aquilo que acha que é bom, mas não é. Nem tendo todo o dinheiro do mundo, você adoecendo, esse dinheiro não irá te salvar. E o Mbya não é assim. O Mbya quer viver a vida, quer viver o corpo, o corpo em pé, caminhando, vivendo, correndo, falando, transmitindo conhecimento. É isso o que o Mbya quer viver e fazer aqui, mas aí tem esse sistema que diz que não, que não pode fazer isso aqui. Onde está o humanismo dessa sociedade que fala tanto de direitos iguais? Só discurso!”, contestou o cacique Eloir Werá Xondaro durante as comemorações.

Territórios de vida fortalecidos, territórios indígenas mantendo as matas e humanidades vivas. “Um ano de resistência, mas de alegria também, de realizações. Crianças correndo felizes vivendo na cultura Mbya Guarani. Esse território não é apenas das famílias que estão aqui, é de todo o povo Mbya Guarani. Esse território é para as próximas gerações”, disse Eloir.


Demarcação já! Terra indígena é vida! 

 

Acesse a galeria de fotos completa no Flickr da Amigas da Terra Brasil:

* Crédito das fotos: Carmen Guardiola/ ATBR

 

Amigas da Terra Brasil

 

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