Após o cessar-fogo: seguimos na luta para desmantelar o apartheid e pelo fim do genocídio do povo palestino

O cessar-fogo é um respiro meio a devastação, assim como um passo relevante para pôr fim à perda de vidas e ao sofrimento generalizado que o povo palestino vive, especialmente na Faixa de Gaza. Mas lembramos que o cessar-fogo não marca o fim do genocídio e do ecocídio, tampouco constitui verdadeira justiça. A ocupação israelense segue desapropriando, matando e destruindo. A celebração do cessar-fogo não pode ser sinônimo da normalização do sistema de apartheid imposto pelo Estado de Israel, e urge que este seja responsabilizado por seus crimes. 

A Amigas da Terra Brasil, integrante da Amigas da Terra Internacional, recebeu com alívio a notícia do novo acordo de cessar-fogo. Por mais que este passe por um processo de intensa fragilidade, ameaças e contradições, ele é fundamental para assegurar melhores condições na construção da luta palestina. Expressamos o sincero reconhecimento a todos nossos grupos membros, pessoas aliadas e simpatizantes, por nos apoiarem na defesa dos direitos de pessoas palestinas e por lutarem conosco por justiça na Palestina.  Nos solidarizamos à causa e seguimos no compromisso de fortalecer o apoio à Pengon – Amigas da Terra Palestina e à luta do povo palestino por sua dignidade, soberania e território.  

Apresentamos as nossas mais profundas condolências às inúmeras famílias que perderam entes queridos e às pessoas que foram deslocadas ou feridas. A devastação causada em territórios palestinos foi profunda e afetou todos os aspectos da vida, incluindo o acesso a serviços essenciais, à educação, à alimentação, saneamento, água e à dignidade humana básica. 

O povo palestino denuncia há décadas que vive sob um regime de apartheid imposto por Israel, tanto nos territórios palestinos ocupados quanto dentro das fronteiras do estado israelense. Denuncia, também, a normalização desse cenário por parte do estado sionista e seus aliados. O cessar-fogo não pode levar novamente à invisibilização e normalização da situação.  

Apartheid, conforme definições na Convenção de Apartheid e no Estatuto de Roma, é um crime contra a humanidade que consiste em cometimento de “atos inumanos com intenção de  manutenção de uma dominação racial de fato e institucional sobre outro grupo étnico sistematicamente oprimido”.  Ainda que a opressão de grupos étnicos esteja presente em várias partes do mundo, a situação imposta por Israel hoje se enquadra na definição pois além da opressão de fato, ela é também de direito. Israel se define como um estado judeu em sua constituição, e conta com pelo menos 35 leis discriminatórias contra palestinos, como impedimento à reunião familiar, confisco e limite à obtenção de terras, restrição à liberdade de locomoção com os muros da Cisjordânia e o sítio a Gaza, aplicação de estatutos militares somente a pessoas palestinas, colonização judaica de áreas palestinas por meio da força, e impedimento do direito de retorno dos refugiados palestinos. O sistema de apartheid foi reconhecido em extensos relatórios pela Anistia Internacional, Human Rights Watch e até organizações israelenses de direitos humanos como a B’tselem, e pela Corte Internacional de Justiça em julho de 2024, que declarou a violação do artigo 3o da Convenção contra todas as formas de discriminação por parte de Israel. 

Após 472 dias da intensificação de um genocídio que, na verdade, é um pesadelo real vivido pelo povo palestino há 76 anos, numa Nabka ampliada, foi anunciado um cessar-fogo oficial no início de 2025. Mas é preciso ir além. Lembramos que a memória não pode ser apagada:  Escolas, hospitais, ambulâncias e campos de refugiados palestinos foram bombardeados sem trégua pelo Estado de Israel antes do cessar-fogo. Gaza teve a luz e a internet cortadas. A falta de água e o bloqueio da chegada de alimentos, medicamentos, combustível e suprimentos para a população sangraram o cotidiano no território, onde o povo palestino e muitas crianças lutaram para sobreviver entre lonas e escombros, juntando corpos a sua volta. 

Ao destruir as condições necessárias à vida, o genocídio de Israel, financiando e armado pelo Ocidente colonial, reduziu intencionalmente a Faixa de Gaza, que ocupavam ilegalmente, a uma zona inabitável. Neste cenário de destruição, mesmo após o cessar-fogo, a perda massiva de vidas palestinas pode ter continuidade na fome, na propagação de doenças infecciosas, na falta de estruturas e na tentativa de forçar os palestinos ao exílio. Em Gaza, 19 anos de bloqueio transformaram o local na maior prisão ao ar livre do mundo, onde 2,3 milhões de pessoas não têm acesso a água potável, eletricidade e material médico. 

Desde que entrou em vigor, no dia 19 de janeiro, o acordo de cessar-fogo é constantemente ameaçado e violado pelo estado de Israel, que obstrui entregas essenciais de ajuda humanitária e suprimentos em Gaza. Além disso, vale lembrar que, dias depois do cessar-fogo, Israel lançou uma operação militar em grande escala na Cisjordânia. Atualmente, estão intensificando sua atividade militar em distintas zonas, principalmente no norte, além de isolar povos e cidades mediante o uso de mais de 898 portões e postos de controle que foram instalados. Os ataques seguem em curso, enquanto Trump fala abertamente de anexar a Faixa de Gaza mediante a expulsão de todas as pessoas palestinas. O que deixa transparecer aquela que sempre foi a intenção de Israel e de seu aliado incondicional EUA: a limpeza étnica, deslocamento forçado total de todo o povo palestino e a expansão do território israelense militarmente e por meio do colonialismo de assentamentos.  

A magnitude da destruição é assombrosa. Infraestruturas vitais foram danificadas, deixando sobreviventes navegarem por uma paisagem de dor, medo e ruína. À medida que as famílias começam a regressar ao que resta de seus lares, elas enfrentam a dolorosa realidade da perda e a difícil tarefa de reconstruir suas vidas a partir das cinzas. Essa era a realidade muito antes do genocídio e agora, mesmo depois do cessar-fogo, as consequências da devastação intensificaram dificuldades do povo palestino, fazendo com que Gaza tenha que suportar limitações ainda maiores. 

A ação, assim como a solidariedade internacional contínua, são urgentes para desmantelar de fato o genocídio e o apartheid social impostos pelo Estado de Israel. Sem uma pressão massiva, a notícia do cessar-fogo pode passar a impressão equivocada de que a paz foi alcançada. Mas a luta não findou. O genocídio pode assumir formas menos visíveis, o que facilita o caminho de desmobilizar a indignação regional e mundial, assim como de fragilizar a perspectiva de boicotes e sanções à Israel, tão fundamentais para alcançarmos a justiça. Essa desmobilização serve aos interesses imperialistas e colonialistas de Israel e dos Estados Unidos, que lucram com a criação de verdadeiros laboratórios de extermínio nos territórios de vida. É preciso despender forças, pressionando para que os culpados sejam responsabilizados pelo genocídio, e para que todas as atrocidades cometidas não caiam em esquecimento e tampouco se repitam.

A liberação da Palestina e o desmantelamento do projeto colonial isralense é uma condição para que nossas lutas pela justiça climática e soberania alimentar sejam vitoriosas. Enquanto o ocidente blinda Israel da responsabilização, suas empresas Mekorot e Netafim, que roubam águas dos territórios palestinos, vendem para a América Latina soluções “verdes” para irrigação e gestão de águas através da privatização, ameaçando comunidades ribeirinhas, indígenas, quilombolas e de agricultura familiar. Ao mesmo tempo, a Adama vende grande parte dos pesticidas e agrotóxicos para quase todos os países da região, contribuindo para a destruição ambiental e contaminação de nossa comida. 

Só uma pressão global massiva, especialmente sob a forma de Boicote, Desinvestimentos e Sanções (BDS), pode verdadeiramente contribuir para acabar com o genocídio de Israel e apoiar a luta palestina para desmantelar o apartheid. 

Para iniciar a mudança rumo uma justiça real, nossas exigências são: 

Solicitamos a todos os governos que: 

  • apoiem economicamente a reconstrução de Gaza baseando-se na soberania do povo palestino;
  • parem a exportação e importação de todos os tipos de armas, assistência militar e peças de reposição para Israel;
  • cumpram suas obrigações de sanções a Israel com base na decisão da Corte Internacional de Justiça e de seus líderes  investigados pela Corte Penal Internacional como primeiro passo para alcançar a justiça e responsabilização de Israel

Fazemos um chamado à comunidade internacional para que tome ações sólidas e tangíveis de apoio ao povo palestino:  

  • pressionando os governos para que apliquem as medidas mencionadas;
  • pressionando as empresas que se beneficiam da ocupação do Estado de Israel para que ponham fim às suas atividades nos nossos territórios, como Mekorot;
  • compartilhando as histórias de pessoas palestinas, de suas lutas e suas demandas por liberdade e pelo fim da ocupação
  • pressionando pelo fim da impunidade de Israel e de suas corporações, exigindo que, pelo bem de toda humanidade,  sejam responsabilizados por seus crimes – o que evita que estados coloniais poderosos possam tornar nações, comunidades, povos e países em zonas de sacrifício para o seu acúmulo de riquezas, 
  • Impedir que União Europeia e Estados Unidos voltem a invisibilizar globalmente o apartheid de Israel e que este normalize suas relações com ditaduras árabes
  • Que se intensifique a pressão pela solidariedade concreta por meio de ações de boicotes, desinvestimentos, sanções e medidas políticas

Seguimos na luta por uma Palestina Livre! 

Amigas da Terra Brasil,
Janeiro de 2025

 

Leia também o posicionamento e demandas da Campanha Boicote, Desinvestimentos e Sanções (BDS):

Confira as demandas e posicionamento da Amigas da Terra Internacional 

Saiba mais sobre o nosso posicionamento 

O cessar-fogo não é o final, é o princípio

A Amigos da Terra Internacional,  junto à PENGON (Amigos da Terra Palestina), expressa o sincero reconhecimento e gratidão a todos nossos grupos membros, aliadas, aliados, aliades e simpatizantes, por nos apoiar na defesa dos direitos humanos de pessoas palestinas e por lutar junto a nós por justiça na Palestina. Com esse novo acordo de cessar-fogo foi dado um primeiro passo crucial para pôr fim à guerra, à perda de vidas e ao sofrimento generalizado. Isso proporcionará um alivio muito necessário ao povo palestino de Gaza, que têm suportado penúrias e destruição inimagináveis ao largo dessa guerra. 

Apresentamos as nossas mais profundas condolências às inúmeras famílias que perderam entes queridos e as pessoas que foram deslocadas ou feridas. A devastação desta guerra foi profunda e afetou todos os aspectos da vida, incluindo o acesso a serviços essenciais, à educação e à dignidade humana básica.

Este momento de respiro deve ser um momento para a reflexão e a solidariedade contínua, mas também para a ação urgente. É o momento de reconstruir e salvar o que restou de Gaza. Para alcançar isto, insistimos na necessidade de um cessar-fogo sustentado que garanta segurança e justiça para a população da Faixa de Gaza.

Habitantes de Gaza regressam ao que resta de seus lares no norte da Franja Crédito: Pengon/Amigos da Terra Palestina

Após 472 dias de genocídio, foi anunciado um cessar-fogo oficial. No entanto, é crucial estar ciente do seguinte: 

Para o povo palestino, o cessar-fogo não marca o o fim do genocídio e nem do ecocídio. O ritmo apenas diminuiu. Um cessar-fogo não é uma declaração de paz. Não constitui justiça. Não é uma forma de liberdade. Não é mais que uma pausa na contínua eliminação do povo palestino e de sua terra. Pode ser que agora as bombas tenham deixado de cair, mas a ocupação israelense segue desapropriando, matando e destruindo. 

A magnitude da destruição é assombrosa. Lares, escolas, hospitais e infraestruturas vitais foram danificadas, deixando sobreviventes navegarem por uma paisagem de dor e ruína. A medida que as famílias começam a regressar ao que resta de seus lares, enfrentam a dolorosa realidade da perda e a difícil tarefa de reconstruir suas vidas a partir das cinzas.

Dias depois do cessar-fogo, Israel lançou uma operação militar em grande escala na Cisjordânia. Atualmente estão intensificando sua atividade militar em distintas zonas, principalmente no norte, além de isolar povos e cidades mediante o uso de mais de 898 portões e postos de controle que foram instalados. 

Em Gaza, 19 anos de bloqueio transformaram a Faixa numa prisão ao ar livre, onde 2,3 milhões de pessoas não têm acesso a água potável, eletricidade e material médico.

Esta era a realidade muito antes do genocídio e agora, mesmo depois do cessar-fogo, as consequências da devastação intensificaram estas dificuldades, fazendo com que Gaza tenha que suportar dificuldades e limitações ainda maiores que a converteram em uma zona inabitável. 

Isso não pode continuar. Para iniciar a mudança rumo uma justiça real, nossas exigências são as seguintes: 

Solicitamos a todos os governos que: 

  • apoiem economicamente a reconstrução de Gaza baseando-se na soberania do povo palestino;
  • parem a exportação de todos os tipos de armas, assistência militar e peças de reposição para Israel;
  • cumpram suas obrigações em virtude da CPI como primeiro passo para alcançar a justiça e responsabilização de Israel

Fazemos um chamado à comunidade internacional para que tome ações sólidas e tangíveis de apoio ao povo palestino:  

  • pressionando os governos para que apliquem as medidas mencionadas;
  • pressionando as empresas que se benefician da ocupação do Estado de Israel para que ponham fim às suas atividades, como Mekorot;
  • compartilhando as histórias de palestinas, palestinos e palestines, de suas lutas e suas demandas por liberdade e pelo fim da ocupação  

Texto originalmente publicado no site da Amigas da Terra Internacional, em: https://www.foei.org/es/el-alto-el-fuego-no-es-el-final/ 

Ressoa o tambor: Comunidade Kilombola Morada da Paz convoca territórios de vida para atividades do Okan Ilu 2025

Ocupar corações e mentes – retomada da percepção da luta em unidade

Que pessoa eu sou se eu não lutar pelo bem, pelo belo, pelo direito de ser e existir do meu povo?” – Ìyálaṣé Yashodhan Abya Yala

Parada da Légua, durante o Okan Ilu 2024 na Comunidade Kilombola Morada da Paz – Território de Mãe Preta (CoMPaz) | Foto: Fabiana Reinholz

Nos dias 17, 18 e 19 de janeiro de 2025, a Comunidade Kilombola Morada da Paz – Território de Mãe Preta (CoMPaz), convida para atividades da 10ª edição do Okan Ilu, um encontro político, espiritual e cultural para celebrar a vida em toda sua diversidade e potência. Por uma solidariedade real e radical, este é um chamamento para juventudes, povos indígenas, kilombolas, ribeirinhos e tradicionais, assentadas da reforma agrária, ocupações, movimentos sociais, população LGBTQIAP+, coletivos culturais, e defensores da terra para fazerem presença, em comum(u)nidade na luta pelo direito de ser e existir de seus corpos, povos e territórios. O encontro acontecerá nesta sexta-feira (17) em Porto Alegre, no CRIA (Centro de Referência Indígena), e terá continuidade no sábado (18) e no domingo (19), na CoMPaz, em Triunfo (RS). 

O Okan Ilu é uma confluência entre povos indígenas, kilombolas, periféricos e juventudes em luta por território, autonomia e dignidade. Um encontro entre povos que fazem viva a ancestralidade no toque com o tambor, no cortejo que traz ao lado a memória das mais velhas e semeia o futuro, no akilombar.  Povos das aldeias e retomadas originárias, que insistem em dizer seus nomes e que a terra não é mercadoria. Povos que atravessam a violência produzindo alimentos sem veneno em assentamentos da reforma agrária. Gentes que fazem e são acolhida,  arte-resistência nas periferias e ocupações que lutam por moradia. É a convergência e ressonância entre quem faz os enfrentamentos para garantir a paz e o zelo de seus territórios de vida, ameaçados por uma série de projetos de morte do capital. 

É um momento de denúncia das violações que seguem ocorrendo contra os povos, mas é, sobretudo, o anúncio de que outros horizontes, com base no envolvimento, no cuidado, no coabitar, no respeito à natureza e na coletividade, são possíveis e vêm sendo construídos. É memória viva, e é também um ato de restabelecimento entre territórios, para os seus fortalecimentos mútuos, de suas gentes e seres -assim como do sonho, da aliança, e da preparação para a luta.

Neste ano, durante os dias 17, 18 e 19, as atividades do Okan Ilu estão organizadas abordando temáticas específicas que se conectam. Entre elas, se enraízam as partilhas sobre a ancestralidade, a história, os corpos percussivos, a resistência dos povos,  corpos-territórios e a perspectiva de encantamento e diálogo com as juventudes. Por meio da arte e da cultura, conectando todos os momentos, está o tema que rege este Okan Ilu: Ocupar corações e mentes: retomada da percepção da luta em unidade.

Nesse entrelaçar de culturas e saberes, o som será o guia. Ele faz chão para as próximas gerações, ao mesmo tempo que evoca e faz presentes as histórias de luta de quem veio muito antes, vibrando num chamado que nutre, que dá ritmo ao sonho por outros mundos possíveis. É acolhimento, resistência, porta-voz da transformação.  “O Okan Ilu começou em 2015. E é o momento em que o território celebra o tambor: Okan, o coração, e Ilu, o tambor, na livre tradução do iorubá. E então começa o momento de celebração, de festejo desse ser que para além de instrumento é um ser vivo, espiritual, que historicamente mantém vivas as tradições ancestrais até hoje. O Okan Ilu é esse momento que lança um clamor, vozes múltiplas que ecoam em uníssono pelo direito de ser e existir de seus povos, de seus territórios. Em 2025, a abordagem do Okan Ilu traz a perspectiva da cultura, da ancestralidade como arte, cultura, música, dança, poesia, educação”, expõe Ogan Ayan  N’goma Muzunguê, Alabe Khan da Nação Muzunguê e jovem liderança da CoMPaz.

A cultura como manifestação e ação política também tem como intenção ser uma ferramenta, um chamado às juventudes. “ A juventude se afastou muito da luta e é preciso fazer uma retomada, numa luta interseccional, de contexto racial, de classe, de gênero, sexualidade, identidades diversas. É aquilo que Ailton Krenak fala: o futuro É ancestral. Voltar o olhar para os kilombos, aldeias, retomadas, assentamentos, é a única alternativa viável. Esse Okan Ilu, ocupar o coração e as mentes, é muito pensando nessa juventude e de gerações mais recentes muito cooptadas pelo capitalismo, pelo sistema. É pensado no sentido de como reencantar a juventude, como tocá-la. Como re-convocar as juventudes em defesa da vida e reativar os seus propósitos de lutar por seus territórios”, afirma Ayan.

Ecoa o clamor dos povos, o grito da terra
Chamamento às atividades do Okan Ilu e à festa da vida

Parada da Légua, durante o Okan Ilu 2024 | Foto: Fabiana Reinholz

No dia 17 (sexta-feira) a CoMPaz estará em Porto Alegre (RS),  fazendo um movimento do território para fora. Junto aos povos indígenas, a partir das 16h acontecerá um encontro em frente ao Centro de Referência Indígena do RS (CRIA), localizado na Cidade Baixa, na Travessa Comendador Batista, 26. O momento será de manifestar ação, em um chamamento de vida e para sonhar a vida dos povos. Nele haverá uma ManiFestaAção que tem como lema o Levante dos Povos pelo Bem Viver: organizar a esperança, dançar a resistência e curar a vida, seguido do Cortejo das Maracás ocupando as ruas, em celebração às mais velhas e anciãs dos territórios. Marcado por processos culturais, artísticos e poéticos, de onde emerge luta e a espiritualidade,  o encontro contará  com uma feira com exposição de produtos dos territórios de vida, partilha de alimentos e com a presença de coletividades que também estarão construindo os outros dias do Okan Ilu e a unidade dos povos. 

Nos dias 18 e 19, o movimento será de trazer pessoas para o Território de Mãe Preta, e as atividades acontecerão na Comunidade Kilombola Morada da Paz, na BR 386, KM 410, no Distrito de Vendinha, em Triunfo (RS), das 9h às 18h. Para confirmar presença, contatar Ayan no número (51) 98330-8955.

No sábado (18), será abordada a questão do corpo como território –  quem somos e o que situa um corpo, o que comunica. Estarão fazendo presença povos que caminham lado a lado, com enfoque nas retomadas e aldeias indígenas de diversas regiões, seja do Rio Grande do Sul, Brasil e de outros países. O dia pautará a luta dos povos em retomadas, o que é um corpo territorializado e um corpo desterritorializado, entendendo o que e a quem proteger. Também será celebrado um levante matricial nos cacicados indígenas. Com muito fluxo de energia, a data reflete sobre como colocar o corpo no mundo e sinalizar para fora a potência que há nos corpos dos povos indígenas, kilombolas, periféricos, pessoas trans, não binárias, em toda diversidade de formas de ser e expressar. 

O domingo (19), fará um retorno ao princípio do Okan Ilu. Como explica Ayan N’goma Muzunguê, Alabe Khan da Nação Muzunguê e jovem liderança da CoMPaz, a data: “Pensa o tambor falante, o som que ressoa no coração e passa pelo corpo, que é o porta voz das histórias –  histórias de muito antes, histórias do amanhã, num tempo de conexão, comumunidade e  resgate. Queremos potencializar a questão do som e todas formas de percussão, o corpo percussivo, a poesia, para além da área temática da música, que está em todas manifestações do nosso coração”. Grupos artísticos, percussivos, que trabalham a questão do som como ferramenta de luta e condutor de vida de diversas partes do Brasil estarão presentes, assim como coletivos de arte educação, comunicação e  projetos sociais com crianças e juventudes a partir da arte e da cultura. 

As datas marcam esse encontro percussivo entre juventudes e territórios de vida, assim como faz a renovação das alianças que vêm sendo construídas de outras caminhadas que mantém viva a luta negra, indígena e afrobrasileira. A partilha será de conhecimentos sobre instrumentos, do som, do fazer e do toque que ressoa no encontro de percussões. Na partilha dessas experiências e experimentações, vão se construindo alianças das histórias de vida e desses tambores que confluem no Okan Ilu.

“A cultura é acolhimento, é deixar passar pelo corpo, ter a luta e o que precisa ser dito dito em diversidade, lutando uma guerra em várias frentes. A Ya traz que com a questão da BR nos colocamos em sentido de guerra. Ao contrário de quem fala em paz mas quer guerra, falamos de guerra para salvaguarda deste território”, afirma Ayan. O Okan Ilu é: “O poder da continuidade dos conhecimentos ancestrais, para que eles possam nos auxiliar a enfrentar os dias de hoje com dignidade, sabendo de onde viemos e quem somos.” 

Solidariedade das lutas na concentração para a Parada da Légua, durante o Okan Ilu 2024 | Foto: Carolina Colorio

A Comunidade Kilombola Morada da Paz – Território de Mãe Preta (CoMPaz)  está localizada no distrito de Vendinha – entre Montenegro e Triunfo, na Região Metropolitana de Porto Alegre, e está sendo diretamente afetada pelo empreendimento de ampliação da BR-386, a menos de 500 metros do seu território. A expansão da BR, assim como do monocultivo de eucaliptos na região, somada a projeto de implementação de um lixão industrial de resíduos tóxicos e a instalação da central de pesagem ameaçam a comunidade, que resiste e se torna uma ilha de vida, um refúgio para onde seres migram quando têm seus territórios devastados. Em articulação com outros territórios de vida, a comunidade traz a conotação política em seus ritos, especialmente após 2020, quando em plena pandemia recebeu a notícia da ampliação da BR e agiu para barrar a légua. Nessa luta, que se irmana com tantas outras, a CoMPaz firma um processo de fortalecimento territorial radical e lembra que ninguém está só. O Okan Ilu reaviva essa memória de enfrentamento e tantas outras, consolidando um apoio mútuo entre territórios em defesa da terra e da natureza.

Esta é uma convocatória à caminhada coletiva, ao rito do tambor que emana o som da vida, para construir caminhos num encontro entre gerações para quem vem num movimento cultural de enfrentamento.  Um chamado para retornar às memórias da ancestralidade, a manter aceso o fogo de uma força milenar que está com os povos na construção e busca pela dignidade.   A todes, todas e todos que sentem vibrar no coração o ritmo da luta, que são tocados pelo som da vida e trazem no enfrentamento o celebrar, fortalecendo essa potência. 

Ecoa o clamor dos povos, o grito da terra. É tempo de combate em Território de Mãe Preta, que se expande onde a festa da vida te convida a ser com, a acontecer. Venha compor em união aos povos, aos guardiões dos territórios, à terra, ao fogo, aos ventos e folhas, serpenteando com as águas que sempre encontram um caminho.  Este é um chamado para ser parte nesse movimento de multidiversidade que tem em comum a defesa das vidas. Te esperamos nesse encontro e encaminhamento, para confluirmos, nos fortalecermos e saudarmos o tambor do coração. 

Confira como foi o Okan Ilu de 2024, que teve como ápice a Parada da Légua, quando povos em marcha pararam a BR-386, uma das ameaças que se debruçam sobre a CoMPaz

Conheça a história de luta da CoMPaz

Acesse o Protocolo autônomo e comunitário de consulta prévia, livre, informada e de boa-fé da CoMPaz: O Dossiê Kilombo – Proteger, Defender e Vigiar

 

 

Série “Por dentro do Pampa: conservação, desafios e políticas ambientais” debate a relevância da defesa do bioma e de seus povos

Série lançada pela Amigas da Terra Brasil em parceria com a especialista Luiza Chomenko traz a tona reflexões cruciais sobre o Pampa. Além de contextualizar as atuais ameaças, aponta caminhos para assegurar a defesa dos direitos humanos e dos povos, assim como do bioma

Os desmontes em proteção ambiental e em políticas que incluem a natureza, assim como o avanço de novo ciclo de monocultivos no Rio Grande do Sul (RS), se entrelaçam com antigas violências que incidem nos territórios de vida gaúchos. As nascentes e águas que correm, os banhados e os campos nativos, assim como a cultura dos povos tradicionais, quilombolas e indígenas e todo o bioma Pampa estão ameaçados. Mas a luta continua, e a defesa dos biomas e dos povos é crucial para frear a emergência climática e garantir direitos.

A pesquisadora e doutora em Biologia, Luiza Chomenko, se dedica há mais de três décadas à questão socioambiental e à defesa do Pampa, que significa, também, a defesa de nossas vidas. Na série “Por dentro do Pampa: conservação, desafios e políticas ambientais” trazemos esse debate à tona na voz de Luiza, salientando as riquezas do bioma, que estão especialmente nas suas gentes e histórias. Além disso, a especialista compartilha seus conhecimentos e reflexões sobre o atual contexto do Pampa, que está sob ameaça com uma série de projetos que, em nome do lucro, ignoram os ciclos de vida.

Confira mais sobre o Pampa no livro “Nosso Pampa desconhecido”, organizado por Luiza Chomenko e Glayson Ariel Bencke

A série conta com quatro vídeos, em que Luiza aborda a relevância da cultura do Pampa e de suas gentes, que se conectam e coabitam com os ciclos de vida do bioma. A pesquisadora destaca a diversidade de fauna e flora entre banhados, zonas úmidas e áreas campestres, apresentando também reflexões sobre crédito de carbono e os impactos dos monocultivos – que de plantios industriais de árvores à expansão da soja no RS, causam o descampamento do Pampa, a remoção de comunidades tradicionais e o risco de eliminação de espécies.

No primeiro vídeo, Luiza expõe qual é a atual situação do bioma, destacando a importância de sua preservação. Aborda, ainda, as dificuldades em relação a políticas efetivas que valorizem na prática a sociobiodiversidade. Ponto que, quando não é considerado, coloca em risco a sobrevivência do Pampa.

No segundo vídeo da série, a pesquisadora e doutora em biologia se debruça na importância inestimável do bioma, que abriga milhares de espécies e uma diversidade singular. Também expõe a relevância dos povos e da cultura que nele coabitam, indicando que uma das maiores riquezas deste está na sua gente e na sua cultura, intimamente conectada à natureza.

Neste episódio abordamos como os modelos inadequados de uso de solo, nas áreas rurais e urbanas, se relacionam às ameaças ao Pampa, colocando em risco a própria sobrevivência de comunidades tradicionais – forçando sua remoção e causando impactos ambientais, culturais, psicológicos e emocionais. Luiza fala das consequências do descampamento, fenômeno de devastação do campo, que também elimina espécies de relevância global e espécies endêmicas, quando o RS possui extensas listas sobre fauna e flora ameaçadas de extinção. Pontos ignorados, mas que são fundamentais na formulação de ações e políticas em defesa do Pampa.

A defesa dos biomas e dos povos é fundamental para garantir direitos humanos, territoriais e para frear a emergência climática. Seguimos em luta pela preservação do Pampa e pela dignidade de seus povos ✊🏼🌿

Azotea: podcast da Amigos da Terra América Latina e Caribe (ATALC) traz uma proposta profunda por justiça ambiental e social

Te apresentamos “Azotea”, o novo podcast de Amigos da Terra América Latina e Caribe (ATALC), uma proposta profunda por justiça ambiental que sacudirá o mundo desde as alturas. Em três episódios, a impunidade corporativa e as injustiças de um modelo econômico que coloca o lucro acima das vidas são expostas, assim como o impacto na vida dos povos e territórios.

A série sonora é um mergulho na luta dos povos amazônicos e da União das Pessoas Afetadas pela Chevron-Texaco (UDAPT) pela defesa dos seus territórios contra a ação criminosa da #Chevron. Além da denúncia, o podcast traz um chamado para a ação, instigando ouvintes a se unirem na defesa dos direitos humanos e à proteção do meio ambiente. Nessa travessia sonora, você descobrirá como pode contribuir na defesa de nosso planeta e dos direitos dos povos afetados.

🎧 Acesse, escute e acompanhe o podcast aqui

Episódio 1 | A essência da luta:

No primeiro episódio, por meio da história de Bruna, uma jovem equatoriana que enfrenta o caos em Buenos Aires, exploramos o impacto da conta    minação petroleira na Amazônia equatoriana e a luta das comunidades indígenas por seus direitos.

Episódio 2 | A espera:

Neste episódio, Bruna Montes, uma jovem ativista ambiental, usa as redes sociais para protestar do telhado de um prédio em Buenos Aires. Ao contar a sua história, ela revela a realidade devastadora que a sua família enfrenta: a sua avó, vítima da poluição causada pela empresa Chevron, está em estado crítico devido a uma nefropatia aguda.

Por meio de testemunhos e arquivos midiáticos, é explorado como o legado de injustiça deixado pela decisão do Tribunal de Haia e como a luta pela justiça ambiental não é apenas uma questão local, mas um desafio global que envolve todos nós. A voz de Bruna ressoa como um apelo à ação, conclamando os ouvintes a se unirem na defesa dos direitos humanos e na proteção ambiental.

Episódio 3 | Ultimato:

No episódio final de Azotea acompanhamos a luta de Bruna Montes, ativista equatoriana que enfrenta a Chevron e exige justiça pela devastação ambiental na Amazônia. Por meio de uma emocionante conferência de imprensa e de testemunhos comoventes das pessoas afetadas, o episódio leva-nos às consequências da poluição causada pelas empresas transnacionais. Unimo-nos a Bruna no seu protesto para que a ONU e outras organizações internacionais adotem um Tratado Vinculante, um passo crucial para acabar com a impunidade corporativa e proteger os direitos humanos.

Este podcast foi produzido com o apoio financeiro da ASDI por meio do ForumCiv. Nem ASDI nem o ForumCiv participaram na produção deste podcast, nem são responsáveis ​​pelo seu conteúdo ou pelas opiniões nele expressas. Uma produção original da Tristana Productions para ATALC. 

Nota da Frente Brasileira Contra os Acordos Mercosul-UE e Mercosul-EFTA sobre a conclusão das negociações do Acordo

Após mais de 20 anos de negociações em segredo, foi anunciado o encerramento das negociações sobre o Acordo de Livre Comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, durante a 65ª Cúpula do Mercosul, em Montevideo (Uruguai). Prejudicial para os povos e o planeta, o acordo seguirá enfrentando forte resistência no processo de ratificação.

Leia o posicionamento da Frente Brasileira Contra os Acordos Mercosul-UE e Mercosul-EFTA, da qual a Amigas da Terra faz parte:

Diante da confirmação de conclusão das negociações do Acordo Mercosul-UE
durante a visita de Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, à
Cúpula do Mercosul em Montevidéu, no Uruguai, a Frente Brasileira Contra os
Acordos Mercosul-UE e Mercosul-EFTA declara seu repúdio ao acordo
neocolonial e reforça o perigo que representa para os povos, ao meio ambiente e  impacta qualquer estratégia futura de desenvolvimento e comércio mais justo que  os países do Mercosul possam buscar.

Negociado a portas fechadas e firmado em 2019, no governo Bolsonaro, o Acordo vinha sendo negociado desde 1999 e ainda pode ser alterado. O texto atual segue sem transparência, uma vez que não foi divulgado para conhecimento da sociedade. Apesar de recentemente terem sido incorporadas algumas exigências do Mercosul, o Acordo segue com problemas centrais, especialmente no que diz respeito ao comércio e uso extensivo de agrotóxicos, à relação desigual entre os países, ao aumento nas emissões de gases do efeito estufa e por zerar a tarifa na exportação de minério de ferro, prata e caulim.

O Acordo reforça padrões históricos de desigualdade entre Norte e Sul Global,
contribuindo para a manutenção dos países do Sul na condição de exportadores de produtos primários.

Agora o Acordo será discutido entre os países da União Europeia sob forte
pressão francesa. Ele será votado pelo Conselho Europeu, pelo Parlamento
Europeu e pelos Legislativos de todos os países da UE e do Mercosul.

Seguiremos em luta e em convergência com nossos parceiros europeus e do
Cone Sul, pressionando pela não ratificação do Acordo.

Frente Brasileira Contra os Acordos Mercosul-UE e Mercosul-EFTA
Nota Frente (1)

Vem conferir o pré-lançamento da Comunidade que Sustenta a Agricultura Agroecológica (CSAA) Territórios de Vida na Feira Frutos da Resistência

Sábado (30) é dia de mais uma edição da Feira Frutos da Resistência, onde compartilharemos a rua em um encontro entre o urbano e o rural. O momento será composto por muita música, prosa, resistência e partilha sobre os territórios de vida que resistem no Rio Grande do Sul.

Nessa confluência, que contará com uma série de atividades e debates, acontecerá o pré-lançamento da Comunidade que Sustenta a Agricultura Agroecológica (CSAA) Territórios de Vida. Num intercâmbio de sabores e saberes, a CSAA Territórios de Vida reafirma o valor do encantamento, da produção agroecológica cooperada e da união entre campo e cidade, levando o nutrir para a sua morada. A iniciativa é um sistema de impulso social do trabalho conjunto entre agricultoras, artesãs, alquimistas e pessoas consumidoras conscientes (co-produtoras).  

Quer saber como apoiar, aí da cidade, a agricultura familiar agroecológica? Tem ganas de fazer parte da produção do seu alimento? Vem para a Feira Frutos da Resistência conferir o pré-lançamento da Comunidade que Sustenta a Agricultura Agroecológica (CSAA) Territórios de Vida. O pré-lançamento da CSAA contará com exposição sobre o que é a iniciativa e apresentará os territórios que a compõe, abordando como estes vivenciam a produção de alimentos, artesanias e alquimias da terra.  Além de conhecer os territórios, você poderá sentir e vivenciar algumas das encantarias que serão proporcionadas com a CSAA, ficando por dentro de como fazer parte dessa coletividade. Esse é um chamado para construirmos outras formas de se relacionar com a Terra! 

Entre os temas abordados nas exposições da Feira, está o avanço do agronegócio com o uso de agrotóxicos e das pulverizações aéreas, verdadeiras armas letais que ameaçam territórios de vida que produzem sem veneno, impactando profundamente a saúde de produtores rurais e de ecossistemas.  Na linha de frente contra essa forma de produção, está a agricultura familiar cooperada e agroecológica, que se torna viva na prática e cuidado com a terra de diversos territórios do Rio Grande do Sul. O pré-lançamento da CSAA Territórios de Vida narra a história de alguns desses territórios em luta, além de propor que você construa a resistência ao lado deles.

Saiba mais sobre a CSAA:

Confira a programação completa da Feira Frutos da Resistência

Feira Agroecológica Frutos da Resistência acontecerá no sábado (30/11)

Produzindo com afeto, consumindo com responsabilidade. Venha vivenciar essa conexão entre campo e cidade

Unindo aromas, sabores, cultura e muita luta, o dia 30 de novembro será marcado por  mais uma edição da Feira Frutos da Resistência.  A Feira existe como um mecanismo de encontro, assim como de partilha de informações dos enfrentamentos e resistências que se dão no Bioma Pampa, na Mata Atlântica e na metrópole de Porto Alegre.  O encontro será na calçada da Casanat, casa sede da Amigas da Terra Brasil (Rua Olavo Bilac, 192, Porto Alegre/RS) e acontecerá das 13h às 19h, mesmo com chuva. A proposta é difundir a agroecologia e a economia solidária, informando a quem se aprochegar  e tornando possível um espaço de diálogo e de articulações políticas.

 Essa edição da Feira Frutos da Resistência terá uma série de debates e exposições, como a de Eduardo Raguse, do Comitê de Combate à Megamegamineração e da Amigas da Terra Brasil, que trará relatos da luta contra os agrotóxicos.  Também haverá a exposição do trabalho de pessoas agricultoras, alquimistas e artesãs dos territórios que produzem vida no Rio Grande do Sul, que contam histórias agroecológicas e coletivas. Outro destaque é a leitura da Carta Manifesto Contra a Fome Indígena no RS, com a presença indígena dos povos Guarani e Kaingang.

Momentos culturais para dar ritmo ao pulsar das lutas por terra e território contarão com a presença do Duo Irmãs Vidal, Mariana Stedele, Òrun – Ayan N’goma Muzunguê e Quichu e Jei Silvanno. O encontro também será embalado com o lançamento do livro Búfalo Antigo, de Charles Trocate, da Direção Nacional do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM).  E com o pré-lançamento da iniciativa CSAA Territórios de Vida – Comunidade que Sustenta a Agricultura Agroecológica.

Confira a programação:

A Amigas da Terra Brasil está retomando a Feira após reforma em sua casa sede, que passou por reconstrução e uma série de melhorias. O momento também celebra a nova casa, que abre as portas para que mais iniciativas como essa sejam construídas em comunidade.

A retomada da feira é uma forma de expressar e compartilhar com a população sobre as lutas em defesa da vida. Estas são travadas por uma série de territórios gaúchos que estarão presentes, salientando o quanto se faz necessária a construção de soberania popular, alimentar e dos territórios, via o combate aos grandes projetos de morte da especulação imobiliária, da mineração, do agronegócio e de seus venenos.  A partilha será de memórias, de alimentos e saberes, de nossas culturas diversas, assim como dos próximos passos na confluência de nossas lutas por justiça social e ambiental. 

Vem somar com a gente e fazer ecoar as vozes de nossos territórios de vida!

Confira como foi a última Feiras Frutos da Resistência da Amigas da Terra Brasil 

Nota Técnica da Amigas da Terra Brasil

O Projeto de Lei 442/2023, que tramita na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, quer declarar a aviação agrícola como de Relevante Interesse Social, Público e Econômico no estado. Em seu artigo 2º, o projeto diz que essa técnica é fundamental para a garantia da eficiência produtiva, abastecimento, segurança alimentar e proteção ambiental, e lista como atividades a semeadura, aplicação de fertilizantes e defensivos, repovoamento de águas, combate a pragas e incêndios. E ainda declara que a aviação agrícola seria livre, autorizada e garantida em todo o território gaúcho.

Pode parecer um projeto para valorizar uma atividade econômica, mas representa, na verdade, a pressão do agronegócio para continuar e expandir a pulverização aérea de agrotóxicos no RS. Essa prática vem sendo denunciada por seus impactos a comunidades e produções agrícolas próximas às fazendas que utilizam essa técnica de aplicação de venenos em lavouras.

Em 2020, a mídia mostrou a contaminação por deriva de agrotóxico em parreirais de uva na região da Campanha. Acompanhamos produtores agroecológicos de assentamentos da Reforma Agrária em Nova Santa Rita, Eldorado do Sul e Tapes, cidades próximas de Porto Alegre, que há 4 anos registram prejuízos econômicos e ambientais com as derivas pelo agronegócio na região. Também denunciam problemas na saúde e temem a contaminação de fontes de água, usadas para consumo humano e na criação de animais para alimentação.  

A pressão popular conseguiu alguns avanços na regulação da pulverização aérea de agrotóxico, mas são localizados e não garantem uma proteção efetiva às pessoas e à natureza. Também não viabilizam a produção agroecológica, sem respeitar o direito dos que querem produzir e de quem quer consumir comida sem veneno.

No Ceará, a mobilização popular resultou numa lei estadual de 2019 que proíbe a pulverização aérea de agrotóxico. O agronegócio tentou derrubar, mas o STF (Supremo Tribunal Federal) manteve a lei devido aos riscos do veneno para a saúde humana e o meio ambiente.

Em defesa da vida, a Amigas da Terra Brasil se soma à luta pelo arquivamento do PL 442/2023 e exige o fim da pulverização aérea de agrotóxicos no RS!

DIVULGAMOS, EM PDF, A NOTA TÉCNICA DA AMIGAS DA TERRA BRASIL QUE SUSTENTA O PEDIDO DO ARQUIVAMENTO DO PL 442/2023 E O FIM DA PULVERIZAÇÃO AÉREA.

BAIXE A NOTA TÉCNICA CLICANDO AQUI

Amigas da Terra Brasil

A COP16 alcança avanços históricos para os povos indígenas mas a crise da biodiversidade se agrava meio a lavagem verde das empresas

Sábado, 2 de novembro de 2024, Cali, Colômbia – A COP 16 da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) terminou esta madrugada sem soluções reais para deter a perda de biodiversidade, e  sem que as causas profundas desta crise tenham sido abordadas, é uma nova oportunidade desperdiçada para regular os impactos das grandes empresas sobre a natureza.

Após uma sessão que durou toda a noite, em que a COP adotou decisões importantes, a reunião foi suspensa por falta de quórum. Ficaram sem resolução decisões como a relativa a mobilização de recursos e um mecanismo financeiro, fundamentais para os países em desenvolvimento que necessitam de segurança em termos de financiamento para a implementação, assim como o Marco de Planejamento, Monitoramento, Relatórios e Revisão, essencial para garantir uma aplicação correta do Marco Global para a Biodiversidade.

A Amigos da Terra Internacional celebra que houve uma grande vitória para os povos Indígenas e para as comunidades locais, que agora terão um grupo de trabalho específico no âmbito da Conferência . A federação ecologista também parabeniza a aprovação de um novo plano de trabalho por parte da CDB que reforçará ainda mais o papel dos Povos Indígenas, comunidades locais e povos afrodescendentes na conservação e uso sustentável da biodiversidade. 

Contudo, ao mesmo tempo, as corporações encontraram formas de não serem reguladas e pressionaram fortemente a favor de falsas soluções, especialmente de compensação da biodiversidade. 

Nas palavras de Nele Marien, co-coordenadora de Florestas e Biodiversidade da Amigos da Terra Internacional: 

“As empresas têm pressionado muito para que se adotem todos os tipos de soluções, especialmente de compensação por biodiversidade, que tem muito apoio. Elas acreditam que podem seguir entrando em novos ecossistemas, novos territórios, e os destruindo, e simplesmente prometem que vão compensar. Isso é simplesmente impossível, porque não temos espaço no mundo para isto. A compensação da biodiversidade é um mecanismo que perpetua ainda mais a destruição, mina os direitos humanos e prejudica a justiça ambiental”.

O financiamento da biodiversidade e os mecanismos para o alcançar também tiveram lugar destacado na agenda. Argumenta-se que o financiamento ao Sul Global, manifestamente insuficiente, se completará com fundos privados procedentes de interesses empresariais e com a compensação da biodiversidade, como expresso em muitos eventos paralelos.  No entanto, o verdadeiro desastre financeiro – os 7 bilhões de “inversão” em atividades destrutivas ao ano – esteve ausente nos debates. 

A Amigos da Terra Internacional também está muito preocupada com o “ciclo negativo” entre as crises do clima e da biodiversidade. A biodiversidade está sofrendo imensamente os impactos do clima e, no entanto, os responsáveis por políticas climáticas seguem projetando a biodiversidade como fonte de compensação de carbono. Além do mais, a CDB não avalia  todos os impactos negativos de muitas políticas climáticas que prejudicam a biodiversidade. 

Em relação ao Órgão Subsidiário aprovado e ao grupo de trabalho para os Povos Indígenas, as comunidades locais e os povos afrodescendentes, Isaac Rojas, co-coordenador de Florestas e Biodiversidade da Amigos da Terra Internacional, enfatizou:  

Graças a este novo órgão e à aprovação do plano de trabalho, as futuras COPs trabalharão, entre muitas outras questões importantes, sobre posse da terra, os conhecimentos tradicionais e a governança dos Povos Indígenas. É um marco na luta dos Povos Indígenas por seus direitos. Os parabenizamos e compartilhamos o sentimento de alegria.  Mas temos que permanecer vigilantes, porque essas conquistas podem resultar em palavras vazias tendo em vista o impulso dado a várias falsas soluções”. 

Justamente sobre o  impulso dado às falsas soluções na COP 16, Mariann Bassey, de ERA – Amigos da Terra Nigéria e Food Affairs, lamentou: 

“Sempre esperamos ver ações reais, mas o que estamos vendo são falsas soluções. 

Estamos cansadas que as pessoas venham aqui, COP atrás de COP, e as coisas sigam iguais. Estamos cansadas de que as corporações se apoderem dos espaços onde deveriam falar os povos”. . 

Por último, Linda González, de CENSAT Água Viva – Amigos da Terra Colômbia, disse:

“As soluções para a crise da biodiversidade não são os créditos de biodiversidade. As soluções estão no reconhecimento da dívida histórica e ecológica que há com o Sul Global, e nas ações urgentes de reparação. Isso não foi abordado na COP 16”. 

A Amigos da Terra Internacional seguirá mobilizando-se com seus aliados em todo o mundo para assegurar que a vitória dos Povos Indígenas, comunidades locais e dos povos afrodescendentes nesta  COP seja totalmente respeitada. E para que assim seja, as corporações não podem seguir destruindo o planeta e oferecendo compensações em troca. 

Conteúdo originalmente publicado na Amigas da Terra Internacional

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