Solidariedade internacional com a Palestina: A comunidade internacional exige justiça

A Amigos da Terra Internacional (ATI) reitera sua condenação aos crimes perpetrados por Israel em Gaza e na Cisjordânia. No último ano, Gaza foi testemunha de brutalidades, massacres e destruição implacáveis e indiscriminadas. Juntamente com o impacto devastador sobre a vida humana, a agricultura, a água e a biodiversidade foram destruídas e poluídas – em alguns casos, sem recuperação para as próximas gerações. Até outubro de 2024, 68% dos campos de cultivo permanentes de Gaza apresentaram um grande declínio em termos de saúde e densidade, o que afetará a nutrição, a segurança alimentar e a soberania por muito tempo depois do fim do conflito.

Conquistando os direitos inalienáveis do povo palestino

Os crimes de guerra que o mundo testemunha têm raízes profundas e fazem parte de um processo contínuo que começou em 1967 com a ocupação e o roubo de terras para a atividade de assentamento, com as terras palestinas sendo sistematicamente tomadas, expulsando as pessoas de suas casas. Desde então, quase todos os aspectos básicos da vida têm sido rigidamente controlados pela ocupação israelense, dificultando que os palestinos e palestinas vivam com dignidade e desfrutem de seus direitos básicos. Embora as pessoas agora estejam chamando abertamente a série de crimes de guerra pelo que ela é – um genocídio -, a política israelense em relação ao povo palestino em Gaza e na Cisjordânia segue por um caminho de terror há muito tempo. O historiador israelense Ilan Pappé denomina o tratamento dado por Israel aos palestinos como um “genocídio incremental”, desde 2014.

Hoje, mais de um ano depois que Israel intensificou sua campanha contra os palestinos, as pessoas que vivem em Gaza e na Cisjordânia têm sofrido crueldades indescritíveis.

No entanto, os ataques contra os hospitais e missões humanitárias de Gaza continuam, e as forças israelenses não se preocupam mais em esquivar-se da culpa, assumindo abertamente a autoria dos ataques. Outro marco foi o “Massacre da Farinha”, em que muitas pessoas famintas foram mortas quando tentavam buscar alimentos em caminhões de ajuda humanitária, e recentemente o ataque israelense mortal a um hospital de campanha. Há muitos outros – a tortura e estupro de prisioneiros,  o abate deliberado de animais e a morte de pessoas com deficiência e bebês prematuros – todos igualmente horríveis. 

A comunidade internacional e diversos defensores firmes, como o secretário da ONU, Antonio Guterres, condenaram Israel pelas “violações do direito humanitário internacional em Gaza” e pelo “profundo sofrimento humano infligido aos palestinos“, mas nada mudou.

Todas as linhas vermelhas existentes foram ultrapassadas e nenhuma repercussão ou ação foi tomada para evitar uma nova escalada. Há várias semanas, Israel iniciou sua incursão na Cisjordânia e no Líbano, onde agora estamos testemunhando uma repetição do que vem acontecendo em Gaza.

O crime israelense deve ser reconhecido pelo ecocídio que é

Há uma clara violação do direito a um ambiente saudável e seguro resultante das operações israelenses. Essas operações bloquearam o acesso à água, à saúde e ao saneamento, ao mesmo tempo em que criaram contaminação por armas e resíduos, destruição do solo e das florestas e escassez de alimentos, tudo sob negligência do direito internacional. A ONU estima que quase 70% das instalações de água e saneamento de Gaza tenham sido destruídas ou danificadas pelo pesado bombardeio israelense. Isso inclui todas as cinco instalações de tratamento de águas residuais do território, bem como usinas de dessalinização de água, estações de bombeamento de esgoto, poços e reservatórios. As crises de água e saneamento contribuíram para o aumento de doenças respiratórias, diarreia e varicela, com preocupações sobre o risco de cólera e outras epidemias.

As armas e os veículos de guerra usados para bombardeios aéreos e ataques terrestres levaram a um aumento significativo nas emissões de carbono. Os produtos químicos das armas, como o fósforo branco, também contaminaram o ar e provavelmente afetaram as terras agrícolas e o solo, contribuindo ainda mais para a insegurança alimentar. As fontes de água não são apenas limitadas, mas estão contaminadas, o que torna o consumo de água potável um desafio para muitos palestinos. O acúmulo de resíduos sólidos nos aterros sanitários improvisados próximos aos acampamentos para pessoas deslocadas internamente, nas províncias centrais e em Khan Yunis, causou grave contaminação por bactérias coliformes totais e fecais, confirmando a chegada de esgoto não tratado e lixiviados altamente tóxicos ao reservatório de água subterrânea.

Esse nível de poluição da água, da terra e do solo levou ao ressurgimento da poliomielite e de outros problemas de saúde perigosos, como a desnutrição e a fome – problemas que poderiam ter sido evitados. Se for permitido que esse ecocídio continue, ele acabará destruindo todos os aspectos da vida em Gaza.

Uma equipe de pesquisadores da Rede Palestina de ONGs Ambientais (PENGON/ FoE Palestina) e da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, lançou recentemente um documento como uma avaliação preliminar do impacto ambiental da guerra de Israel em Gaza.

A Palestina é uma luta pelos direitos humanos e pela justiça climática

A luta contra a ocupação israelense, baseada na exploração ilegal das terras e dos recursos naturais palestinos, é uma luta de libertação.

A abordagem das questões ambientais não pode ser separada do reconhecimento do direito dos povos à soberania nacional em suas próprias terras. A luta pela libertação palestina está interconectada com os movimentos globais que defendem os direitos indígenas, os direitos à terra, a luta contra o setor de combustíveis fósseis e o colonialismo climático.

Chamado para ação

Em solidariedade à nossa organização membro, PENGON, e a todas as pessoas afetadas, a Amigos da Terra Internacional está convocando uma mobilização internacional para demandar a todos os governos, especialmente aos poderosos aliados de Israel:

  • Exigir um cessar-fogo imediato e usar todos os mecanismos diplomáticos e econômicos à sua disposição para impedir os ataques de Israel a Gaza, começando pela interrupção da venda de armas a Israel para evitar mais mortes e danos à terra, e considerando suspender as relações econômicas com Israel e empresas israelenses e cortar os laços diplomáticos.
  • Exigir que o governo israelense interrompa o uso de produtos químicos, bombas e qualquer arma que continue a prejudicar a vida do povo palestino, suas terras, a biodiversidade e o meio ambiente em geral nos próximos anos. Medidas urgentes precisam ser tomadas para proteger o território antes que mais danos irreparáveis sejam causados.

  • Exigir que Israel respeite a decisão da Corte Internacional de Justiça (CIJ), que afirmou inequivocamente que a ocupação israelense da Cisjordânia, de Jerusalém Oriental e da Faixa de Gaza é ilegal e deve terminar imediatamente

Você também pode apoiar a luta fazendo uma doação para a PENGON por meio desta página de arrecadação de fundos da Friends of the Earth International. Sua doação apoiará o trabalho da PENGON/Friends of the Earth Palestine e fornecerá recursos extremamente necessários aos palestinos em Gaza, levando energia verde aos campos de refugiados e facilitando a instalação de sistemas de purificação de água.

 

Cessar fogo já! Presidente Lula: rompa com os acordos comerciais e militares do Brasil com Israel

1 ano do genocídio televisionado do Estado de apartheid de Israel na Palestina

No último ano, o mundo assistiu Israel cometer executar um genocídio televisionado em Gaza. A violência que reverbera na mídia desde 7 de outubro de 2023, há mais de um ano, não começou naquela data. É a continuidade do projeto colonial e racista do Estado de Israel, diretamente financiado pelos Estados Unidos e países europeus para promover limpeza étnica e apartheid social aos palestinos, a fim de defender seus interesses econômicos e de dominação política na região. A luta do povo palestino por sua autodeterminação e direitos é histórica. No marco de um ano, vemos a aniquilação quase total em Gaza, com milhares de mortos e moradias, hospitais, escolas, centros médicos e universidades tombadas pelo complexo industrial militar prisional, que é marca do Estado de Israel. O terror também se estende na Cisjordânia ocupada, e está estampado na invasão terrestre e nos ataques de Israel ao Líbano e na ameaça de escalada de violência no Irã. 

Embora seja realidade há 76 anos, numa Nabka ampliada, o pesadelo real vivido pelo povo palestino tomou novas proporções no último ano, marcado pela ineficiência mundial, da Organização das Nações Unidas (ONU) e pelo multilateralismo internacional. Escolas, hospitais, ambulâncias e campos de refugiados palestinos foram bombardeados sem trégua pelo Estado de Israel. Gaza teve a luz e a internet cortadas. A falta de água e o bloqueio da chegada de alimentos, medicamentos, combustível e suprimentos para a população sangram o cotidiano no território, onde o povo palestino luta entre lonas e escombros para sobreviver.  

De acordo com dados da mídia, desde 7 de outubro de 2023, bombardeios e invasões terrestres resultaram no assassinato de mais de 42 mil palestinos pelas forças militares israelenses em Gaza. A maioria das vítimas são mulheres e crianças. No entanto, contabilizando a fome, doenças, bloqueios na chegada de medicação e de assistência médica, estudo publicado pela revista The Lancet, renomada revista científica de medicina a nível mundial, aponta que o número de palestinos assassinados por Israel é muito superior ao divulgado, e estima que cerca 186 mil pessoas tiveram suas vidas ceifadas em Gaza. 

O que está em curso desde o começo da Nabka tem nome: colonização. O genocídio palestino se intensificou do último ano para cá, com Israel expandindo seu território e ataques na região. Este é representado pelos interesses econômicos e geopolíticos imperialistas dos Estados Unidos da América (EUA) e países europeus, com destaque para Inglaterra, que não apenas são cúmplices, mas agentes do terror: financiam o poderio militar de Israel com investimento militar na casa de bilhões de dólares e euros. Governos e grandes empresas e corporações do Norte Global, especialmente dos EUA e da Europa, tornam possíveis os crimes do Estado de Israel armando, financiando e protegendo o estado sionista de sua responsabilidade. A parceria na desumanização do povo indígena palestino, assim como na repressão dele, também vem de meios de comunicação cúmplices. Acabar com essa cumplicidade é um imperativo.

Nesta semana de manifestações em todo o mundo, a Amigas da Terra Brasil (ATBr) denuncia o projeto supremacista do Estado de Israel e a impunidade corporativa por trás das violações de direitos contra o povo palestino. Condenamos os ataques contra o povo palestino e a ocupação ilegal de seu território pelo Estado de Israel, promovida com racismo, limpeza étnica, genocídio e apartheid, e nos somamos à campanha internacional pelo cessar fogo já! O massacre do povo palestino e a ausência de um fim real aos ataques militares afeta tanto a palestinos quanto a classe trabalhadora e a sociedade civil israelense, que vivem com medo e mobilizados pela liberdade de seus reféns, situação que não foi solucionada com o agravamento dos ataques à Gaza pelo Estado de Israel.

É urgente toda a nossa solidariedade ao povo palestino, que deve ser convertida em ações práticas de mobilização e pressão popular pelo cessar fogo e pelo direito de ser e de existir. A Amigas da Terra Brasil se soma à iniciativa do Movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) e convoca a quem quer o fim do massacre em Gaza e contra os palestinos a pressionar governos e desafiar megaempresas e instituições cúmplices dos crimes do Estado de Israel. Reforçamos o movimento de solidariedade global nos esforços de boicote, desinvestimento e sanções para isolar o apartheid israelense e suas instituições cúmplices em todas as frentes. 

Cobramos que o Brasil e o governo de Luiz Inácio Lula da Silva assumam compromissos  concretos em solidariedade ao povo palestino, rompendo as relações comerciais e militares com Israel. Não podemos aceitar que, após 124 países terem aprovado sanções a Israel na Assembleia Geral da ONU, incluindo o Brasil, apenas 3 países as tenham implementado: a Turquia, com a proibição da venda de petróleo, além da Malásia, que embargou o trânsito de embarcações com armamentos a Israel, e da Colômbia, que freou a compra de armas de Israel. No caso colombiano, se destaca também a posição do país em decretar o fim da exportação de carvão, fato que descontentou a Glencore, uma empresa multinacional anglo-suíça de commodities de mineração, conhecida por ser a maior companhia global de recursos naturais diversificados. A corporação não quer cumprir com a política de boicote à Israel do governo de Gustavo Petro e Francia Márquez, o que evidencia o poder das transnacionais, que não respeitam as soberanias dos Estados.  

As mesmas armas que matam a juventude negra e da periferia no Brasil, assim como ameaçam territórios de vida aqui, vêm de Israel. O avanço da militarização na América Latina, seja no sistema prisional, na contenção de manifestações civis por direitos, no treinamento militar, na violência no campo contra o campesinato e contra indígenas e povos tradicionais que lutam por seu território, têm relação econômica e comercial direta com Israel. Gaza é a maior prisão a céu aberto do mundo e após bombardeios, com novas tecnologias testadas, Israel promove feiras bélicas e lança novos produtos de guerra no mercado. O disparo que crava a morte em corpos palestinos, do outro lado do globo terrestre, tem nas armas e nas balas o selo das mesmas empresas israelenses que fazem a morte aqui. Pela soberania dos povos e pelo direito de serem e existirem, essa conexão precisa ser exposta. A luta é pela Palestina Livre do rio ao mar, e conflui entre todos territórios que resistem.

As raízes de nossa esperança estão nas décadas de resistência do povo palestino, na ampliação do poder popular que vem das comunidades nos territórios e na solidariedade internacionalista. Entre outros significados, como resiliência, a palavra árabe Sumud significa “permanecer firme na terra”. É adotada como estratégia política de resistência, assim como forma de vida palestina, entrelaçada ao território. Para que a palavra seja viva, e pela dignidade dos povos e territórios de vida, seguimos na construção dessa luta e com os punhos ao alto pela Palestina Livre.

06 de outubro de 2024: Solidariedade real com Palestina no encontro de Amigos da Terra Internacional, no Sri Lanka

Cessar fogo já! Pela libertação do território e do povo palestino!  Exigimos que o presidente Lula rompa relações comerciais e militares entre Brasil e Israel

Amigas da Terra Brasil, 10 de outubro de 2024

Solidariedade Internacionalista: repudiamos a detenção arbitrária de José Iván Arévalo Gómez em El Salvador e exigimos a sua libertação imediata!

A Amigos da Terra América Latina e Caribe (ATALC) e a Amigas da Terra Brasil (ATBR) se unem às ações de denúncia contra o governo de extrema direita de El Salvador, onde ontem (29/08) foi detido, arbitrariamente, José Iván Arévalo Gómez, defensor dos Direitos dos Povos Indígenas, do povo Nahuat, e membro da Rede de Territórios de Vida de El Salvador e do Movimento de Vítimas Afetadas pela Mudança Climática e Corporações (MOVIAC).

O MOVIAC denunciou à comunidade nacional e internacional que José Iván foi detido na quinta-feira, 29 de agosto, às 2h da manhã. Desde março de 2022, o governo impôs um regime de exceção com o argumento de combater as quadrilhas, suspendendo as garantias constitucionais e violando direitos humanos fundamentais, como o direito a um julgamento justo e ao habeas corpus. Em dois anos, mais de 79 mil pessoas foram presas, muitas delas inocentes, incluindo representantes indígenas, aos quais foi negado o devido processo legal. Essas detenções fazem parte de uma estratégia do regime que justifica a sua política de segurança, mas que tem uma utilização política ao silenciar os líderes sociais.

Como parte das organizações de defesa dos direitos humanos e dos povos da América Latina e do Caribe, juntamo-nos à exigência ao governo de Nayib Bukele:

– À PNC, à Procuradoria-Geral da República e a outros funcionários, que respeitem os direitos humanos de José Iván, a sua integridade física e moral e a da sua família.

– A sua libertação imediata, com base nos princípios de justiça estabelecidos pela Constituição de El Salvador e em tratados internacionais como a Declaração sobre os Direitos dos Povos Indígenas, ratificada por El Salvador em 2007, e a Convenção n.º 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho).

Apelamos à comunidade internacional para que denuncie essa detenção e exija a libertação de José Iván Arévalo Gómez, bem como para que convoque os corpos diplomáticos dos países progressistas e as instituições de defesa dos direitos humanos a acompanharem e verificarem a sua integridade física, o seu devido processo e a sua rápida libertação.

Amigos da Terra América Latina e Caribe (ATALC)
30 de agosto de 2024

*Texto retirado do site da ATALC, em que foi publicado originalmente em espanhol, em: https://atalc.org/2024/08/30/repudiamos-detencion-de-jose-ivan-arevalo/
e traduzido para o português com ajuda do DeepL Translate

Assembleia da Amigas da Terra Brasil reafirma compromissos na luta internacionalista por justiça ambiental

A organização Amigas da Terra Brasil (ATBr) realizou sua assembleia anual em 26 de julho, na Casanat – casa sede da organização, em Porto Alegre (RS). Estiveram presentes membros de seus conselhos Diretor, Fiscal e Consultivo, além de integrantes de movimentos sociais, de territórios em luta e de organizações aliadas, como a Periferia Feminista; a horta e cozinha comunitárias do Morro da Cruz; Marcha Mundial de Mulheres (MMM), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), o Comitê de Combate à Megamineração (CCM-RS) e a Comunidade Kilombola Morada da Paz (CoMPaz).

O momento contou com apresentação de relatório de atividades e aprovação da prestação de contas de 2023. Debruçou-se, ainda, na temática da emergência climática, seus impactos na vida cotidiana da população e proposições de quais táticas e estratégias devem ser adotadas para garantir soluções reais frente a tragédias anunciadas, como a das enchentes no Rio Grande do Sul. “A gente tem as respostas para essa crise. É demarcação de terra indígena, titulação kilombola, reforma fundiária, reforma agrária popular”, expôs a presidenta da ATBR, Letícia Paranhos, salientando que as soluções estão na defesa e garantia dos povos nos territórios. O que passa por um Estado forte, com políticas públicas construídas a partir das demandas dos territórios.

Uma retrospectiva sobre a caminhada da ATBr na luta durante o último ano foi traçada, trajetória que se enraíza ainda mais neste ano. Da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no Brasil, uma vitória após quatro anos do governo de extrema direita de Jair Bolsonaro, até a articulação para barrar o Acordo Mercosul-UE (União Europeia) na Europa e a construção do feminismo popular na Escola Internacional Berta Cáceres, em Honduras, a Amigas da Terra segue no compromisso internacionalista para a construção do poder popular.  

Momentos importantes das lutas de 2023 são rememorados

A apresentação do relatório de atividades da ATBr em 2023 especificou os principais projetos construídos junto aos territórios de vida nos programas Soberania Alimentar e Cuidado Popular dos Territórios e da Biodiversidade (SAeB), Justiça Econômica e Resistência ao Neoliberalismo (JERN) e Justiça Ambiental nas Cidades.

Dentre as principais ações estão o apoio a comunidades camponesas assentadas da Reforma Agrária, denunciando os impactos dos agrotóxicos na produção agroecológica, na saúde humana e animal e no meio ambiente. Exigimos, juntos, que as autoridades competentes garantam que as famílias possam produzir de forma saudável, sem serem pulverizadas com veneno pelo agronegócio. Ainda se destacam a formação política e popularização de temas, a articulação nacional em redes e ações de solidariedade aos povos da Amazônia e a articulação regional e internacional das lutas de base. 

A ATBr pautou o fim do PL do Veneno e da Tese do Marco Temporal para demarcação de territórios indígenas, e segue mobilizada contra esses retrocessos. Além do posicionamento contra os projetos de morte do agronegócio, marcados a sangue com o genocídio de indígenas, campesinos e dos povos tradicionais, a organização combate a expansão do capital fossilista e da mineração sobre os territórios de vida. Exigiu e segue exigindo justiça e o fim da impunidade corporativa da Braskem e da Vale, assim como luta para barrar o avanço dos projetos carboníferos no RS. 

Em 2023, em parceria com o Comitê de Combate à Megamineracão do RS, da qual faz parte, uniu esforços contra o Projeto de Lei do Senado n°4.653/2023. O Comitê expressou de maneira unânime a necessidade de arquivamento do projeto, alegando que a proposta busca incluir a região carbonífera do estado em um programa de transição energética, mas, na prática, mascara a continuidade prejudicial da exploração e queima do carvão mineral. Além disso, critica propostas anteriores, como a Lei Estadual 15.047/2017, apontando para a necessidade urgente de um debate amplo sobre uma transição energética efetiva, considerando as particularidades e vocações econômicas locais. 

Nos territórios de retomada indígena e nas aldeias, foram desenvolvidos projetos de manutenção de sistemas elétricos para autonomia comunitária, assim como campanhas de solidariedade e distribuição de alimentos da agricultura familiar. Nesta aliança com as retomadas, em  novembro de 2023, a CasaNat foi palco da estreia do curta-documentário “Opy Nhombaraete Karai”, no idioma Guarani, sobre a Retomada Mbya Guarani no Arado Velho, em Porto Alegre (RS).

A Amigas da Terra Brasil segue apoiando cozinhas solidárias, visando o combate à fome e a construção da soberania alimentar. Entre elas, a Cozinha Solidária da Azenha, iniciativa do MTST, e a Cozinha e Horta Comunitária do Morro da Cruz, construída pela Marcha Mundial das Mulheres (MMM) e pelo coletivo Periferia Feminista, que se articulam ainda com a ATBr e com outros movimentos, como o MTST – aliança esta conhecida como Aliança Feminismo Popular e que marcou o início do processo da horta, durante a pandemia de Covid-19. 

Outra parceria fundamental foi com a Comunidade Kilombola Morada da Paz (CoMPaz), de Triunfo (RS), que enfrenta uma luta bastante dura  para que seja consultada e respeitada no processo de licenciamento das obras de ampliação da BR 386, conforme prevê a Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho). Em 2023, importantes vitórias vieram para provar que é possível parar a légua de um megaprojeto de morte que ameaça a coletividade kilombola. Entre elas, a Justiça Federal reconheceu o direito à consulta livre, prévia, informada e de boa fé da comunidade antes que qualquer projeto seja implementado. E o Conselho de Direitos Humanos do RS, em que foi apresentado o Dossiê Kilombola durante a primeira sessão de 2023, reforçou que autoridades e empresas respeitem a comunidade e os seus direitos. 

Quanto à emergência climática, um dos destaques de 2023 foi a participação da ATBr na Audiência Pública para decretar Emergência Climática no RS, assim como na ronda de monitoramento de violações de Direitos Humanos com as Enchentes no Vale do Taquari (RS). Também foram abordadas articulações e construções de luta que vão desaguar na Cúpula dos Povos, que irá ocorrer  durante a COP30 do clima, que será sediada no Brasil em 2025. 

A luta é internacionalista

Entre alianças nacionais e internacionais, destacaram-se as articulações que criaram a Lei Marco sobre Direitos Humanos e Empresas (PL 572/2022) e outras iniciativas visando responsabilizar as transnacionais por seus crimes e violações de direitos. Em março de 2023, essa luta confluiu no Seminário “Direitos Humanos e Empresas: O Brasil na frente”, organizado com a ATALC (Amigos da Terra América Latina e Caribe) e demais organizações sociais e sindicatos brasileiros, ocorrido em Brasília (DF). Contou com debates, pressão política pela primazia dos direitos humanos, diálogo com o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, articulação política e o lançamento de cartilha popular sobre o PL 572/22. Atualmente, a ATBR vem incidindo para a criação de uma política nacional de direitos humanos e empresas que aterrissem nos princípios do PL. A nível internacional, o tema seguiu em debate na 9ª Sessão de Negociações do Tratado Vinculante sobre Transnacionais na ONU, da qual a ATBr integra. 

Destaque para o combate ao Acordo Mercosul-UE, pautado há anos pela ATBr, que integra a Frente Brasileira Contra o Acordo UE-Mercosul. Foi lançada, em 2023, uma campanha contra o acordo comercial, que reverberou vozes de movimentos sociais, lideranças indígenas e comunitárias, assentados da reforma agrária e mulheres, pautando o que significa de fato este acordo e porque deve ser combatido. Além disso, a ATBr esteve em espaços institucionais com a Frente, no intuito de barrar o acordo e pressionar que presidentes, como Macron (França) e Lula, não o levem adiante. 

Feminismo popular para transformar o mundo 

A Amigas da Terra Brasil prossegue na construção do feminismo popular, aprofundando conhecimentos, troca de experiências e sua participação em atividades no intuito de mudar a vida das mulheres e colocar a vida no centro. 

A nível nacional fez parte de momentos históricos como a Marcha das Margaridas, que reuniu em Brasília mais de 100  mil mulheres dos campos, águas, florestas e cidades brasileiras. Pautou ainda a descriminalização e legalização do aborto no Brasil, somando a campanhas do Nem Presa Nem Morta e tendo a CasaNat como ponto de referência para distribuição de lenços para militantes e organizações feministas e aliadas a essa luta.  

Também participou do  Seminário e Intercâmbio de Quilombolas e Mulheres da Agroecologia em Ribeirão Grande Terra Seca, localizado no Vale do Ribeira, em Barra do Turvo (SP). O evento teve como principal objetivo fortalecer o intercâmbio solidário – , com foco na busca pela justiça econômica e no diálogo com a economia feminista, e propôs respostas concretas para combater a fome no Brasil. A ATBr também fez parte da construção e realização do “Intercâmbio entre Mulheres do Campo e da Cidade – Construindo a economia feminista no RS”, que ocorreu em maio de 2023, em Porto Alegre, Maquiné e Rolante (RS), junto com a  Aliança Feminismo Popular,  comunidades, quilombos e iniciativas parceiras da economia solidária na região metropolitana e no Litoral Norte do RS e as mulheres do Vale do Ribeira (SP).

Para desmantelar o patriarcado, a organização se articulou territorialmente, nacionalmente e a nível internacional, denunciando o poder das transnacionais e como essas afetam a vida cotidiana de mulheres. Dentro da Amigas da Terra, exemplo desse compromisso está na política para prevenir a violência contra a mulher, que foi referendada pela organização em 2021 e garante um ambiente de trabalho seguro, que não fere direitos de mulheres, pessoas trans e não binárias. 

Após apresentação de relatório de atividades e de prestação de contas, a Assembleia encerrou com um momento de confraternização, embalado pelo samba e as vozes do duo Irmãs Vidal e nutrido por refeição preparada pelas militantes da Cozinha Comunitária do Morro da Cruz, da Periferia Feminista.

Retomando os processos do ano que passou, firmando compromissos e alianças e articulando coletivamente o que é preciso para frear o avanço do capital sob as vidas, a  Assembleia foi mais um dos momentos relevantes para dar sequência a uma luta muito anterior, e que seguirá a passos largos pelo amanhã.  É neste compromisso de uma luta constante para transformar a realidade que a Amigas da Terra Brasil é guiada para tornar possível um mundo mais justo e solidário. 

 

Acabar com a repressão na Argentina já!

Amigos da Terra Internacional, da qual integra a Amigas da Terra Brasil, se solidariza com os movimentos socioambientais, feministas, sindicais e indígenas na Argentina, que sofreram forte repressão em 12 de junho, que resultou em mais de 600 pessoas feridas e 35 presas arbitrariamente, das quais 5 ainda estão detidas em prisões federais de segurança máxima por exercerem seu legítimo direito de manifestação.

O “Protocolo Anti-Protesto”: leis regressivas, pobreza e crueldade

A manifestação foi o resultado de 6 meses de um governo de extrema direita que elevou as taxas de pobreza para 55,5% da população e a miséria para 17,5%. Ao mesmo tempo em que aprova leis e decretos profundamente regressivos em termos de direitos, está tentando conceder superpoderes ao presidente, liberando totalmente as ações das multinacionais extrativistas e flexibilizando a legislação trabalhista, entre outros ataques aos trabalhadores e à soberania nacional.

Por meio da aplicação do “Protocolo Anti-Protesto” e da geração de distúrbios por agentes disfarçados, as forças armadas avançaram sobre os manifestantes, usando caminhões com jatos de água, balas de borracha, spray de pimenta e realizando prisões arbitrárias de pessoas aleatórias. Os detidos denunciam que foram submetidos a abusos nas prisões, como o uso de spray de pimenta, espancamentos e despojamento. Além de serem processados, acusados de terrorismo e tentativa de golpe de Estado. Essas novas formas de atuação da Justiça Federal abrem um grave precedente para futuras mobilizações: o julgamento dos manifestantes marca um perigoso aprofundamento da política de criminalização dos protestos e coloca em risco o sistema democrático.

Aumento da repressão na Argentina para desmobilizar

Embora a repressão a manifestações pacíficas faça parte do modus operandi do novo governo nacional, a acusação de um plano sedicioso e terrorista e a tentativa judicial de validar essa hipótese marcam um ponto de inflexão que indica que aqueles que se mobilizam não têm mais direitos ou garantias. Esse fato evidencia a escalada de violência econômica, simbólica e política que vem ocorrendo na Argentina nos últimos 6 meses, de forma ininterrupta e crescente. Os detidos são estudantes, trabalhadores e ativistas sociais.

Isso se soma a um plano sistemático de estigmatização dos movimentos sociais organizados na mídia e à retirada de alimentos subsidiados das cozinhas comunitárias.

Solidariedade Internacionalista

A rejeição às políticas desumanas de Javier Milei está se multiplicando em todo o mundo. Recentemente, foram realizadas manifestações na Espanha e na Alemanha por causa de sua visita a esses países, onde ele viaja com dinheiro do Estado argentino para apoiar manifestações de direita.

Os movimentos sociais, ambientais, sindicais, feministas e de economia popular da Argentina e do mundo estão em alerta. Convocamos a comunidade internacional a exercer a solidariedade internacionalista, a exigir a libertação imediata e a demissão de todos os detidos. Também exigimos o fim imediato da violência estatal, o respeito à democracia e o fim da criminalização dos protestos.

Amigos da Terra Internacional (Foei). Acesse a nota original em https://www.foei.org/es/detengan-la-represion-en-argentina/ 

ATALC e Amigas da Terra Brasil condenam a tentativa de golpe de Estado na Bolívia

 

A Amigos da Terra América Latina e Caribe (ATALC) condena veementemente a tentativa de golpe de Estado na Bolívia e se une à mobilização e ao repúdio internacional ao acontecimento, liderado pelo general Zúñiga e um grupo de soldados armados que tentaram entrar no palácio do governo, chamando à insubordinação e exigindo a libertação dos autores do golpe de 2019, que atualmente estão presos.

Os movimentos sociais e o povo boliviano, que se mobilizaram rapidamente para defender a democracia e, portanto, os direitos humanos, a paz, a prosperidade e a dignidade de seu país, foram fundamentais para o fracasso dessa tentativa.

A Bolívia, como a maioria de nossos países, sofreu dezenas de golpes militares em sua história. Essas tentativas de desestabilizar e assumir governos afetam seriamente toda a região, que está resistindo aos avanços do fascismo e da extrema direita.

Somos solidários com todas as organizações e movimentos populares da Bolívia, povos em luta que mais uma vez demonstraram sua forte vocação democrática e soberana.

Golpes de Estado nunca mais!

Amigos da Terra América Latina e Caribe (ATALC), da qual integra a Amigas da Terra Brasil (ATBr)

26 de junho de 2024

Traduzido com a versão gratuita do tradutor – DeepL.com

Lutar não é crime! Liberdade já para os manifestantes detidos pela polícia do Governo Milei na Argentina

 

Lutar NÃO é crime! Liberdade JÁ aos presos políticos de Milei na Argentina! A Amigas da terra Brasil se solidariza às organizações sociais argentinas, que resistem aos ataques neoliberais do Governo Milei. Reforçamos as denúncias de truculência e violência do governo e da polícia, a criminalização e as prisões arbitrárias dos que lutam em defesa da democracia e dos direitos dos trabalhadores e do povo argentino.

A Amigas da Terra Brasil se une aos hermanos lutadores e exige a libertação dos 35 manifestantes detidos ilegal e injustamente nos protestos e manifestações de 12 de junho contra a aprovação do pacote de leis de Milei, que faz uma reforma liberal na economia do país.

Abaixo, reproduzimos texto da organização Tierra Nativa – Amigos da Terra Argentina.

 

Liberdade para as pessoas detidas por se manifestarem

Trinta e cinco pessoas foram detidas arbitrariamente após as manifestações populares de quarta-feira, 12 de junho, contra a legislação regressiva do governo de extrema-direita de Javier Milei. Os detidos ainda não foram libertados e estão ameaçados de serem processados por acusações muito graves, o que constitui uma ameaça ao direito de protesto de todos os argentinos.

 

Repressão e detenções ilegais

Na quarta-feira, 12 de junho, o Senado debateu o projeto de lei “Bases e pontos de partida para a liberdade dos argentinos”, num cenário de empate técnico e de negociações entre o partido no poder e os senadores do “diálogo”, que se prolongaram até horas antes da votação. O dia foi tenso, tanto dentro como fora do recinto, com centenas de milhares de pessoas mobilizadas nas ruas de Buenos Aires.

A Plaza de los Dos Congresos, onde fica o Senado, estava repleta de movimentos sociais, partidos políticos, sindicatos, universitários e cidadãos comuns que foram convocados a partir das 10 horas da manhã, hora prevista para o início do debate. Alguns estavam em vigília desde a noite anterior, certos de que o que estava a ser debatido nesta lei era o futuro do país.

O dia começou com uma manifestação pacífica. No entanto, a área ao redor do Congresso estava isolada e com uma forte presença da Polícia Federal Argentina, da Gendarmeria e de outras forças de segurança nacional. Sabia-se de antemão que o “Protocolo Anti-Protesto” do governo de Milei estava pronto para ser aplicado. Ao meio-dia, um grupo de deputados federais que estava a sair para ver a situação nas proximidades do Congresso foi atacado com gás de pimenta pelas Forças de Segurança Nacional.

Crédito: Somos TELAM

O debate indicava que a votação ocorreria por volta das 22h. A praça continuou a encher-se de manifestantes e, por volta das 16 horas, as forças policiais iniciaram uma repressão brutal contra os cidadãos, que expressavam o seu desacordo com a lei em debate no Congresso. O avanço das forças armadas e a repressão duraram mais de cinco horas: caminhões hidrantes, balas de borracha, gás de pimenta e detenções arbitrárias.

Crédito: Enfoque Rojo

Trinta e cinco pessoas foram detidas nesse dia pelas Forças de Segurança Nacional. Entretanto, os canais oficiais do governo publicaram um comunicado felicitando as forças de segurança “pela excelente ação na repressão dos grupos terroristas que, com paus, pedras e até granadas, tentaram perpetrar um golpe de Estado” (sic). O procurador responsável acusou os detidos de “se insurgirem contra a ordem constitucional e a vida democrática”, imputou-lhes 15 crimes e, numa decisão inédita, transferiu 10 deles para prisões de segurança máxima sob a figura da “prisão preventiva”. Eles estão à disposição da Justiça Federal.

Crédito: Somos TELAM

Solidariedade com as vítimas da repressão

O que ocorreu é um acontecimento político que nos alerta para a escalada de violência e do avanço antidemocrático na Argentina, e que se agravou nas últimas 48 horas. Os detidos são estudantes, trabalhadores e ativistas sociais.

Os movimentos sociais e de direitos humanos de todo o país repudiam a repressão exercida contra o povo pelo Governo Nacional e estamos em alerta e mobilizados para exigir a libertação imediata e a libertação de todos os detidos, que não só foram presos como sofreram enormes maus tratos. Exigimos, também, o fim da escalada de violência do Estado e da criminalização dos protestos.

Apelamos às organizações e indivíduos de todo o mundo para que se manifestem em solidariedade com o povo argentino que luta pela defesa da democracia e dos seus direitos e para que exijam a libertação das pessoas detidas ilegal e injustamente.

Acesse o texto original em espanhol no site da Tierra Nativa – Amigos da Terra Argentina em https://tierranativa.org.ar/libertad-a-los-y-las-detenidas-por-manifestarse/

Traduzido com o tradutor DeepL.com

Integração dos povos para enfrentar crises sistêmicas e transformar a sociedade

Karin Nansen, da REDES – Amigos da Terra Uruguai, denuncia as crises do capitalismo e compartilha estratégias de luta internacionalista
Friends of the Earth El Salvador, 2019

A gravidade das crises socioambientais sistêmicas – as crises do clima, da biodiversidade, da água, da fome, das desigualdades, dos cuidados – exige de nós uma articulação muito mais profunda de lutas, processos de resistência e projetos políticos que vão sendo criados a partir dos movimentos populares do continente e do mundo.

É impossível enfrentar crises a partir das fronteiras nacionais, ou apenas a nível territorial e local. Na origem das crises, identificamos um sistema de acumulação capitalista, patriarcal, racista, colonialista e imperialista, que foi historicamente construído com base na escravidão, no genocídio, na destruição de continentes e na subjugação dos nossos povos. É um sistema de acumulação que se expande continuamente a nível local, incorporando novos territórios, mas também novas esferas de vida em sociedade. Enfrentar esse sistema exige um olhar que vai além do local ou nacional e que tenha uma perspectiva regional e internacionalista.

As empresas transnacionais são atores centrais nesse processo de acumulação e precarização da vida e do trabalho. Elas são protagonistas do processo de destruição e desapropriação de terras, florestas e águas. Sua atuação vai muito além das fronteiras nacionais. Elas têm muito mais poder que os Estados nacionais e impõem constantemente os seus projetos, normas e lógicas, sobretudo em um continente como o nosso, que historicamente teve uma inserção altamente dependente no sistema capitalista e na economia globalizada neoliberal.

Na América Latina, o processo de acumulação liderado pelas poderosas empresas transnacionais e grupos econômicos nacionais se baseia na extração de matérias-primas e na exploração da mão de obra. E essa exploração se estende aos nossos territórios, nossos povos, corpos e ao trabalho das mulheres, sobretudo das mulheres racializadas. O poder e a impunidade das transnacionais são fortalecidos com novas normas, presentes em acordos de livre comércio e tratados bilaterais de investimentos, entre outros instrumentos neoliberais. Inclusive, as transnacionais têm o poder de entrar com ações judiciais contra Estados quando consideram que uma política pública não as favorece. Se considerarem que uma política pública que favorece o bem comum é prejudicial aos seus lucros, apresentam uma ação perante tribunais internacionais de arbitragem, como o Centro Internacional para a Arbitragem de Disputas sobre Investimentos (ICSID), que funciona sob a égide do Banco Mundial. Em geral, os tribunais de arbitragem decidem a favor das transnacionais, atacando a capacidade soberana dos Estados para decidir sobre as políticas públicas mais adequadas.

“Essa constante violação de direitos, esse constante ataque à vida que continua impune não pode ser enfrentado apenas localmente.”

No feminismo popular, aprendemos com as lutas de resistência do nosso continente e compreendemos a necessidade urgente da integração dos povos, construindo a unidade na diversidade para desmantelar a impunidade corporativa, a destruição territorial e os ataques contínuos aos nossos direitos e para consolidar os nossos projetos políticos emancipatórios. São as mulheres indígenas, camponesas, quilombolas, trabalhadoras, das classes populares as mais afetadas por esses processos de destruição e ataques contínuos. São, ainda, aquelas que realmente lideram as lutas e também resistem a essa ofensiva. As mulheres populares desempenham um papel central como sujeitos políticos na defesa territorial e na defesa de projetos políticos coletivos. São elas que, repetidamente, se organizam e se mobilizam para enfrentar o projeto de acumulação das empresas.

Aprendemos com as companheiras da Marcha Mundial das Mulheres a necessidade de apostarmos na construção de projetos políticos populares regionais e de nos fortalecermos coletivamente como sujeitos políticos populares. Em um contexto de profundas crises sistêmicas que ameaçam os sistemas ecológicos que tornam a vida possível, e da ofensiva brutal que a direita e o capital estão lançando em muitos países do nosso continente, temos a responsabilidade e o dever de avançar nessa construção de unidade em torno a projetos políticos emancipatórios que nos permitam desmantelar os sistemas de dominação, opressão e exploração dos nossos povos e da natureza.

Historicamente, os nossos povos organizados construíram esses processos e projetos políticos emancipatórios, como a soberania alimentar. Esses projetos nos permitem disputar imaginários e sentidos, bem como assentar as bases e princípios que nos permitem dar uma resposta integral e estrutural às crises sistémicas, e que devem organizar as nossas sociedades.

Construímos a integração em torno da resistência e da luta contra a concentração de poder e riqueza, as desigualdades, a espoliação, o acaparamento, a poluição e a destruição de territórios, como consequência do avanço do agronegócio, da mineração, das barragens, combustíveis fósseis. Diante disso, a unidade e a construção da integração implicam aprofundar e consolidar as propostas de transformação do sistema alimentar, do sistema energético, do sistema econômico, rompendo com as dicotomias que nos foram impostas entre sociedade e natureza, trabalho produtivo e reprodutivo, e a divisão sexual do trabalho.

Hoje, também é fundamental no nosso continente nos organizarmos para disputar a política e as políticas públicas, porque precisamos recuperar o controle sobre as decisões que têm a ver com a organização das nossas sociedades e a nossa relação com a natureza. Disputar a política, como nos ensinou Nalu Faria, significa também disputar e descolonizar o Estado, redefinir o seu papel em torno da sustentabilidade da vida, da defesa da natureza e dos direitos dos povos. É uma disputa profunda, que redefine o que é o Estado e como construímos institucionalidade política a nível regional, num momento em que se instala a deslegitimação da política e se impõem seres nefastos, como Javier Milei na Argentina.

Temos que disputar a esfera econômica. Graças à Marcha Mundial das Mulheres, temos contribuições fundamentais para todos os nossos movimentos em torno da economia feminista. A economia feminista nos oferece os princípios e diretrizes necessários para organizar a produção e a reprodução da vida e garantir a satisfação das necessidades do nosso povo. Princípios comuns aos da soberania alimentar, que visam a transformação radical da produção, distribuição e consumo de tudo o que é necessário à vida. A economia feminista numa chave regional aponta para a organização em todos os níveis, destacando a importância do vínculo entre as classes populares do campo e da cidade. E as mulheres organizadas desempenham um papel essencial na construção da soberania alimentar no nosso continente. Nesse âmbito, nos opomos firmemente à economia verde que está transformando a natureza numa mercadoria e às tentativas de impô-la à nossa região. E continuamos lutando, como temos feito historicamente, contra o neoliberalismo, que privatiza cada vez mais esferas da vida na sociedade e na natureza. Tal como foi demonstrado na pandemia, o neoliberalismo não garante a sustentabilidade da vida, mas ameaça a vida.

A integração regional deve partir do reconhecimento do trabalho de cuidado como princípio organizador dos processos econômicos e da necessidade de pôr fim à divisão sexual do trabalho, bem como à exploração do corpo e do trabalho das mulheres. Para isso, devemos garantir a autonomia coletiva das mulheres nos processos de repensar e reformular as nossas economias em chave regional.

Uma disputa por território avança em todo o continente. Por um lado, estão os povos que sentem e vivem o território como espaço de produção e reprodução da vida, como espaço de luta, de construção política e cultural, de memória. Por outro lado, empresas que veem os territórios como plataforma de acumulação de capital, como fonte inesgotável de recursos. É fundamental nessa disputa fortalecer o poder e o controle dos nossos povos sobre os territórios, tanto rurais como urbanos, além das fronteiras, resistindo ao reducionismo que converte a natureza em unidades que podem ser compradas e vendidas no mercado, e à transformação das funções da natureza em serviços.

“Devemos recuperar o controle sobre o conhecimento e a tecnologia, destacando o seu caráter público. Na medida em que a tecnologia é privatizada, concentrada nas mãos de poucas empresas, ela se torna um instrumento de maior exploração das classes populares e da natureza.”

A nossa perspectiva sobre a integração deve apostar no internacionalismo, como base da unidade e da solidariedade dos povos e de um novo multilateralismo. Uma integração que impeça ações criminosas, como as que são levadas a cabo hoje pelo governo de Israel contra o povo palestino. Esses processos de integração regional foram construídos historicamente e continuam sendo. Para fortalecer os sujeitos políticos numa perspectiva emancipatória regional, é fundamental conhecer a nossa história, manter viva a memória e, sobretudo, resistir à imposição de novos imaginários perversos pelas mãos da direita.

Karin Nansen integra a REDES – Amigos da Terra Uruguai, e da Jornada Continental pela Democracia e contra o Neoliberalismo. Este texto é uma edição de sua exposição no webinário “Feminismo e integração regional”, realizado pela MMM Américas em 30 de novembro de 2023.

Texto originalmente publicado em CapiveMov 
Traduzido do espanhol por Aline Lopes Murillo com revisão de Helena Zelic
Edição de Bianca Pessoa

For an end to the genocide of the Palestinian people!

Genocide 
Gen·o·cide 
noun 
The total or partial destruction of an ethnic group, race or religion by cruel methods.
(Aurélio Dictionary)

By saying that “What is happening in the Gaza Strip and to the Palestinian people is like nothing else in history. In fact, it existed when Hitler decided to kill the Jews”, did Lula make a mistake?

The Brazilian president’s intention was to equate the Palestinian genocide with the Jewish genocide, but although the massive and systematic murder of innocents is always an equally repulsive act, regardless of the number of people affected, the State of Israel is demonstrating that it is high time for us to overcome the Holocaust as the ultimate criterion of humanity’s monstrosity.

There are many criteria that can also attest to the monstrosity of the conduct of states. One of them is historical responsibility. All those who experience a situation of injustice and cruelty, if they do not seek revenge, have a historical duty to fight to ensure that the suffering and barbarity they have endured is never repeated – with anyone, with any people, at any time. As we have seen, in the opinion of various organisations, world leaders, thinkers, among others – Jewish or not, in the face of all the efforts to keep the memory of the Holocaust alive so that it is never repeated, it is inconceivable that the State of Israel should still perpetuate the massacre in Palestine, a veritable open-air concentration camp.

In addition, there are many elements in the genocide committed by the State of Israel that must be taken into account so that we don’t allow ourselves to be so buried by the monstrosity of the Holocaust that we lose sight of the monstrosity committed against the Palestinians today. We know that the war against the Palestinian people is based on a great deal of confusion aimed at making anti-Semitism the right of defence of the Jewish people. This right of defence announced by the State of Israel has been used, however, as a seal for the formation, for decades, of a terrorist, murderous and genocidal state. Let us look at the elements:

Firstly, while the Third Reich in Germany lasted for 12 years, Palestinian apartheid has been going on for more than seven decades. Secondly, the atrocities committed in the Nazi concentration camps were condemned and repressed through a world war that did not allow the Holocaust to be naturalised and made it possible for the Jews to be liberated and obtain their state. The Palestinian genocide, on the other hand, has been distorted and naturalised by the spokespeople of global Zionism for decades, keeping the Palestinians massacred for all these years and with no hope of liberation in sight. Thirdly, the repulsive anti-Semitism is directed against a nation of people who today have the protection and adopt as their culture and home a plurality of states spread around the world. Hatred of the Palestinian people seeks to eliminate a fragile and vulnerable nation made up of just over five million people confined (imprisoned) in a narrow strip of land that has not even been guaranteed its right to form a state of its own.

There is another element – perhaps the most important one – which makes it inappropriate to say that the Palestinian genocide is equivalent to the Holocaust. The Jewish tragedy was an unprecedented event in human history. Just like the murderous atomic bombs dropped on Hiroshima and Nagasaki in Japan, until the Holocaust it was impossible for the imagination to conceive that human beings would be capable of such atrocities. However, once they happened for the first time, the reiteration of such events can no longer be considered mere repetition. Those who carry out an unimaginable atrocity for the second time are not drawing on a wild cruel imagination. Instead, they are simply rationally and deliberately reproducing what the Western culture of which they are a part has established as immoral, repugnant and unacceptable.

When it comes to the terrorist, murderous and genocidal state of Israel, the Holocaust can no longer be used as the ultimate criterion of humanity’s monstrosity or as a way of shielding itself from criticism. We can no longer tolerate that all those who rebel against the State of Israel be threatened with the label of “anti-Semites”. The Jewish nation is not to be confused with the terrorist, murderous and genocidal state of Israel. To say that the terrorist, murderous and genocidal state of Israel has lost the legitimacy of using the Holocaust as a rhetorical device to shield its war crimes in no way detracts from the Jewish nation’s just struggle to preserve the vigilant memory of a past that must never be repeated against anyone, any people, at any time.
Perhaps it’s time to think about how today the terrorist, murderous and genocidal state of Israel and its Western allies are fuelling antisemitism in the world, given that their actions over the last seven decades are largely responsible for the bloodshed of innocent Jews and for shaming the memory of all those who were exterminated in the Hitler genocide.

Friends of the Earth Brazil therefore expresses its support for President Lula’s statement and rejects any kind of retraction on the part of the Brazilian government towards the war criminal Benjamin Netanyahu, prime minister of the terrorist, murderous and genocidal state of Israel.

Friends of the Earth Brazil – 20th February 2024

¡Por el fin del genocidio del pueblo palestino!

 

Genocidio 
Ge·no·ci·dio 
m. 
Destrucción total o parcial de una etnia, raza o religión mediante métodos crueles.
(Diccionario Aurélio)

 

Cuando dijo que “Lo que está ocurriendo en la Franja de Gaza y al pueblo palestino no se parece a nada en la historia. De hecho, ya existía cuando Hitler decidió matar a los judíos”, ¿se equivocó Lula?

La intención del presidente brasileño era equiparar el genocidio palestino al genocidio judío, pero, aunque el asesinato masivo y sistemático de inocentes es siempre un acto igualmente repulsivo, independientemente del número de personas afectadas, el Estado de Israel está demostrando que ya es hora de que superemos el Holocausto como criterio máximo de monstruosidad de la humanidad. Hay muchos criterios que también pueden dar fe de la monstruosidad del comportamiento estatal. Uno de ellos es la responsabilidad histórica. Todos los que experimentan una situación de injusticia y crueldad, si no buscan venganza, tienen el deber histórico de luchar para que el sufrimiento y la barbarie que han padecido no se repitan jamás, con nadie, con ningún pueblo, en ningún momento. Como hemos visto, en la opinión de diversas organizaciones, líderes mundiales, pensadores y otros -judíos o no-, frente a todos los esfuerzos por mantener viva la memoria del Holocausto para que nunca se repita, es inconcebible que el Estado de Israel siga perpetuando la masacre en Palestina, un verdadero campo de concentración al aire libre.

Además, hay muchos elementos en el genocidio cometido por el Estado de Israel que deben tenerse en cuenta para que no nos dejemos sepultar tanto por la monstruosidad del Holocausto que perdamos de vista la monstruosidad cometida hoy contra los palestinos. Sabemos que la guerra contra el pueblo palestino se basa en una gran confusión destinada a hacer del antisemitismo el derecho de defensa del pueblo judío. Este derecho de defensa anunciado por el Estado de Israel ha sido utilizado, sin embargo, como sello para la formación, durante décadas, de un Estado terrorista, asesino y genocida. Veamos los elementos:

En primer lugar, mientras que el Tercer Reich en Alemania duró 12 años, el apartheid palestino se prolonga desde hace más de siete décadas. En segundo lugar, las atrocidades cometidas en los campos de concentración nazis fueron condenadas y reprimidas mediante una guerra mundial que no permitió naturalizar el Holocausto e hizo posible que los judíos fueran liberados y obtuvieran su Estado; mientras que el genocidio palestino ha sido distorsionado y naturalizado por los voceros del sionismo global durante décadas, manteniendo a los palestinos masacrados durante todos estos años y sin esperanza de liberación a la vista. En tercer lugar, el repulsivo antisemitismo se dirige contra una nación de personas que hoy tienen la protección y adoptan como cultura y hogar una pluralidad de Estados dispersos por el mundo; el odio al pueblo palestino, en cambio, busca eliminar a una frágil y vulnerable nación formada por poco más de cinco millones de personas confinadas (encarceladas) en una estrecha franja de tierra que ni siquiera tiene garantizado su derecho a constituir un Estado propio.

Hay otro elemento -quizás el más importante- que hace inadecuado decir que el genocidio palestino es equivalente al Holocausto. La tragedia judía fue un acontecimiento sin precedentes en la historia de la humanidad. Al igual que las bombas atómicas asesinas lanzadas sobre Hiroshima y Nagasaki en Japón, hasta el Holocausto era imposible para la imaginación concebir que los seres humanos fueran capaces de tales atrocidades. Sin embargo, una vez que han ocurrido por primera vez, la reiteración de tales acontecimientos ya no puede considerarse mera repetición. Quienes llevan a cabo una atrocidad inimaginable por segunda vez no están recurriendo a una imaginación salvaje y cruel. Por el contrario, simplemente están reproduciendo de forma racional y deliberada lo que la cultura occidental de la que forman parte ha establecido moralmente como inmoral, repugnante e inaceptable.

Cuando se trata del Estado terrorista, asesino y genocida de Israel, ya no se puede utilizar el Holocausto como criterio último de la monstruosidad de la humanidad ni como forma de escudarse contra las críticas. No podemos seguir tolerando que se tilde de “antisemitas” a todos los que se rebelan contra el Estado de Israel. No hay que confundir la nación judía con el Estado terrorista, asesino y genocida de Israel. Decir que el Estado terrorista, asesino y genocida de Israel ha perdido la legitimidad de utilizar el Holocausto como recurso retórico para escudar sus crímenes de guerra no desvirtúa en absoluto la justa lucha de la nación judía por preservar la memoria vigilante de un pasado que nunca debe repetirse contra nadie, ningún pueblo, en ningún momento.

Tal vez sea hora de reflexionar sobre cómo hoy el Estado terrorista, asesino y genocida de Israel y sus aliados occidentales están alimentando el antisemitismo en el mundo, dado que sus acciones durante las últimas siete décadas son en gran medida responsables del derramamiento de sangre de judíos inocentes, y de avergonzar la memoria de todos aquellos que fueron exterminados en el genocidio hitleriano.

Por lo tanto, Amigas de la Tierra Brasil expresa su apoyo a la declaración del presidente Lula y rechaza cualquier tipo de retractación por parte del gobierno brasileño hacia el criminal de guerra Benjamin Netanyahu, primer ministro del estado terrorista, asesino y genocida de Israel.

Amigas de la Tierra Brasil – 20 de febrero de 2024

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