Ponto de Cultura é referência para moradores de comunidades como o Morro Santa Tereza e a Vila Cruzeiro, mas está ameaçado por uma possível reintegração de posse.
É com a mesma força e ancestralidade do tambor afro-gaúcho que o Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo, que leva o nome do instrumento musical, tem oportunizado arte e inclusão social para as comunidades da zona sul de Porto Alegre.
Teatro, oficinas de percussão e capoeira são algumas das diversas atividades que movimentam a casa durante toda a semana. Além disso, moradores da região também procuram o local quando precisam de serviços como acesso à internet.
Da poesia à produção de vídeos, os jovens que frequentam o espaço podem ser poetas, artistas, roteiristas, fotógrafos, diretores. Para Cristina Nascimento, o Quilombo do Sopapo é um lugar de oportunidade, de vivenciar experiências e de abraçar diferentes pessoas.
Sobretudo, a arte e a cultura negra do Brasil parecem ser o respiro e a inspiração de resistência necessários para as comunidades da região, em um momento de democracia fragilizada e ataques contra as populações marginalizadas.
Projeto criado em 2004 pela gestão de Gilberto Gil no Ministério da Cultura (MinC), os Pontos de Cultura foram idealizados para serem uma ligação efetiva do trabalho social e das manifestações culturais realizados em todo o país, disputando o interesse de jovens em regiões de vulnerabilidade.
Mas, nos últimos anos os Pontos de Cultura tiveram seu orçamento reduzido pelo governo. Muitos editais destinados às entidades foram cancelados, inclusive seguindo determinação contrária à da Advocacia Geral da União (AGU), o que deixou vários grupos culturais do país sem investimentos.
Além disso, o Quilombo do Sopapo sofre com a ameaça de um possível despejo. Está prevista para o mês de dezembro uma reintegração de posse a pedido do Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal (Sintrajufe/RS), já que a atual gestão do sindicato reivindica o terreno cedido pela administração anterior.
A situação, segundo os membros do Ponto de Cultura, é preocupante, mas a programação cultural intensa do local segue normalmente. Em novembro, foi realizada a posse do atual Conselho Gestor Comunitário, com representantes dos bairros e de movimentos sociais.
“Eu nunca pensei que um dia ia fazer teatro na minha vida. Esse espaço é tão rico que não podemos deixar desaparecer”, diz Beatriz Rodrigues, integrante do Quilombo do Sopapo que participa das oficinas de percussão e também realiza um trabalho com plantas medicinais de conhecimento popular no local.
Conheça mais sobre o trabalho de Beatriz no vídeo abaixo: