Solidariedade internacional com a Palestina: A comunidade internacional exige justiça

A Amigos da Terra Internacional (ATI) reitera sua condenação aos crimes perpetrados por Israel em Gaza e na Cisjordânia. No último ano, Gaza foi testemunha de brutalidades, massacres e destruição implacáveis e indiscriminadas. Juntamente com o impacto devastador sobre a vida humana, a agricultura, a água e a biodiversidade foram destruídas e poluídas – em alguns casos, sem recuperação para as próximas gerações. Até outubro de 2024, 68% dos campos de cultivo permanentes de Gaza apresentaram um grande declínio em termos de saúde e densidade, o que afetará a nutrição, a segurança alimentar e a soberania por muito tempo depois do fim do conflito.

Conquistando os direitos inalienáveis do povo palestino

Os crimes de guerra que o mundo testemunha têm raízes profundas e fazem parte de um processo contínuo que começou em 1967 com a ocupação e o roubo de terras para a atividade de assentamento, com as terras palestinas sendo sistematicamente tomadas, expulsando as pessoas de suas casas. Desde então, quase todos os aspectos básicos da vida têm sido rigidamente controlados pela ocupação israelense, dificultando que os palestinos e palestinas vivam com dignidade e desfrutem de seus direitos básicos. Embora as pessoas agora estejam chamando abertamente a série de crimes de guerra pelo que ela é – um genocídio -, a política israelense em relação ao povo palestino em Gaza e na Cisjordânia segue por um caminho de terror há muito tempo. O historiador israelense Ilan Pappé denomina o tratamento dado por Israel aos palestinos como um “genocídio incremental”, desde 2014.

Hoje, mais de um ano depois que Israel intensificou sua campanha contra os palestinos, as pessoas que vivem em Gaza e na Cisjordânia têm sofrido crueldades indescritíveis.

No entanto, os ataques contra os hospitais e missões humanitárias de Gaza continuam, e as forças israelenses não se preocupam mais em esquivar-se da culpa, assumindo abertamente a autoria dos ataques. Outro marco foi o “Massacre da Farinha”, em que muitas pessoas famintas foram mortas quando tentavam buscar alimentos em caminhões de ajuda humanitária, e recentemente o ataque israelense mortal a um hospital de campanha. Há muitos outros – a tortura e estupro de prisioneiros,  o abate deliberado de animais e a morte de pessoas com deficiência e bebês prematuros – todos igualmente horríveis. 

A comunidade internacional e diversos defensores firmes, como o secretário da ONU, Antonio Guterres, condenaram Israel pelas “violações do direito humanitário internacional em Gaza” e pelo “profundo sofrimento humano infligido aos palestinos“, mas nada mudou.

Todas as linhas vermelhas existentes foram ultrapassadas e nenhuma repercussão ou ação foi tomada para evitar uma nova escalada. Há várias semanas, Israel iniciou sua incursão na Cisjordânia e no Líbano, onde agora estamos testemunhando uma repetição do que vem acontecendo em Gaza.

O crime israelense deve ser reconhecido pelo ecocídio que é

Há uma clara violação do direito a um ambiente saudável e seguro resultante das operações israelenses. Essas operações bloquearam o acesso à água, à saúde e ao saneamento, ao mesmo tempo em que criaram contaminação por armas e resíduos, destruição do solo e das florestas e escassez de alimentos, tudo sob negligência do direito internacional. A ONU estima que quase 70% das instalações de água e saneamento de Gaza tenham sido destruídas ou danificadas pelo pesado bombardeio israelense. Isso inclui todas as cinco instalações de tratamento de águas residuais do território, bem como usinas de dessalinização de água, estações de bombeamento de esgoto, poços e reservatórios. As crises de água e saneamento contribuíram para o aumento de doenças respiratórias, diarreia e varicela, com preocupações sobre o risco de cólera e outras epidemias.

As armas e os veículos de guerra usados para bombardeios aéreos e ataques terrestres levaram a um aumento significativo nas emissões de carbono. Os produtos químicos das armas, como o fósforo branco, também contaminaram o ar e provavelmente afetaram as terras agrícolas e o solo, contribuindo ainda mais para a insegurança alimentar. As fontes de água não são apenas limitadas, mas estão contaminadas, o que torna o consumo de água potável um desafio para muitos palestinos. O acúmulo de resíduos sólidos nos aterros sanitários improvisados próximos aos acampamentos para pessoas deslocadas internamente, nas províncias centrais e em Khan Yunis, causou grave contaminação por bactérias coliformes totais e fecais, confirmando a chegada de esgoto não tratado e lixiviados altamente tóxicos ao reservatório de água subterrânea.

Esse nível de poluição da água, da terra e do solo levou ao ressurgimento da poliomielite e de outros problemas de saúde perigosos, como a desnutrição e a fome – problemas que poderiam ter sido evitados. Se for permitido que esse ecocídio continue, ele acabará destruindo todos os aspectos da vida em Gaza.

Uma equipe de pesquisadores da Rede Palestina de ONGs Ambientais (PENGON/ FoE Palestina) e da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, lançou recentemente um documento como uma avaliação preliminar do impacto ambiental da guerra de Israel em Gaza.

A Palestina é uma luta pelos direitos humanos e pela justiça climática

A luta contra a ocupação israelense, baseada na exploração ilegal das terras e dos recursos naturais palestinos, é uma luta de libertação.

A abordagem das questões ambientais não pode ser separada do reconhecimento do direito dos povos à soberania nacional em suas próprias terras. A luta pela libertação palestina está interconectada com os movimentos globais que defendem os direitos indígenas, os direitos à terra, a luta contra o setor de combustíveis fósseis e o colonialismo climático.

Chamado para ação

Em solidariedade à nossa organização membro, PENGON, e a todas as pessoas afetadas, a Amigos da Terra Internacional está convocando uma mobilização internacional para demandar a todos os governos, especialmente aos poderosos aliados de Israel:

  • Exigir um cessar-fogo imediato e usar todos os mecanismos diplomáticos e econômicos à sua disposição para impedir os ataques de Israel a Gaza, começando pela interrupção da venda de armas a Israel para evitar mais mortes e danos à terra, e considerando suspender as relações econômicas com Israel e empresas israelenses e cortar os laços diplomáticos.
  • Exigir que o governo israelense interrompa o uso de produtos químicos, bombas e qualquer arma que continue a prejudicar a vida do povo palestino, suas terras, a biodiversidade e o meio ambiente em geral nos próximos anos. Medidas urgentes precisam ser tomadas para proteger o território antes que mais danos irreparáveis sejam causados.

  • Exigir que Israel respeite a decisão da Corte Internacional de Justiça (CIJ), que afirmou inequivocamente que a ocupação israelense da Cisjordânia, de Jerusalém Oriental e da Faixa de Gaza é ilegal e deve terminar imediatamente

Você também pode apoiar a luta fazendo uma doação para a PENGON por meio desta página de arrecadação de fundos da Friends of the Earth International. Sua doação apoiará o trabalho da PENGON/Friends of the Earth Palestine e fornecerá recursos extremamente necessários aos palestinos em Gaza, levando energia verde aos campos de refugiados e facilitando a instalação de sistemas de purificação de água.

 

Cessar fogo já! Presidente Lula: rompa com os acordos comerciais e militares do Brasil com Israel

1 ano do genocídio televisionado do Estado de apartheid de Israel na Palestina

No último ano, o mundo assistiu Israel cometer executar um genocídio televisionado em Gaza. A violência que reverbera na mídia desde 7 de outubro de 2023, há mais de um ano, não começou naquela data. É a continuidade do projeto colonial e racista do Estado de Israel, diretamente financiado pelos Estados Unidos e países europeus para promover limpeza étnica e apartheid social aos palestinos, a fim de defender seus interesses econômicos e de dominação política na região. A luta do povo palestino por sua autodeterminação e direitos é histórica. No marco de um ano, vemos a aniquilação quase total em Gaza, com milhares de mortos e moradias, hospitais, escolas, centros médicos e universidades tombadas pelo complexo industrial militar prisional, que é marca do Estado de Israel. O terror também se estende na Cisjordânia ocupada, e está estampado na invasão terrestre e nos ataques de Israel ao Líbano e na ameaça de escalada de violência no Irã. 

Embora seja realidade há 76 anos, numa Nabka ampliada, o pesadelo real vivido pelo povo palestino tomou novas proporções no último ano, marcado pela ineficiência mundial, da Organização das Nações Unidas (ONU) e pelo multilateralismo internacional. Escolas, hospitais, ambulâncias e campos de refugiados palestinos foram bombardeados sem trégua pelo Estado de Israel. Gaza teve a luz e a internet cortadas. A falta de água e o bloqueio da chegada de alimentos, medicamentos, combustível e suprimentos para a população sangram o cotidiano no território, onde o povo palestino luta entre lonas e escombros para sobreviver.  

De acordo com dados da mídia, desde 7 de outubro de 2023, bombardeios e invasões terrestres resultaram no assassinato de mais de 42 mil palestinos pelas forças militares israelenses em Gaza. A maioria das vítimas são mulheres e crianças. No entanto, contabilizando a fome, doenças, bloqueios na chegada de medicação e de assistência médica, estudo publicado pela revista The Lancet, renomada revista científica de medicina a nível mundial, aponta que o número de palestinos assassinados por Israel é muito superior ao divulgado, e estima que cerca 186 mil pessoas tiveram suas vidas ceifadas em Gaza. 

O que está em curso desde o começo da Nabka tem nome: colonização. O genocídio palestino se intensificou do último ano para cá, com Israel expandindo seu território e ataques na região. Este é representado pelos interesses econômicos e geopolíticos imperialistas dos Estados Unidos da América (EUA) e países europeus, com destaque para Inglaterra, que não apenas são cúmplices, mas agentes do terror: financiam o poderio militar de Israel com investimento militar na casa de bilhões de dólares e euros. Governos e grandes empresas e corporações do Norte Global, especialmente dos EUA e da Europa, tornam possíveis os crimes do Estado de Israel armando, financiando e protegendo o estado sionista de sua responsabilidade. A parceria na desumanização do povo indígena palestino, assim como na repressão dele, também vem de meios de comunicação cúmplices. Acabar com essa cumplicidade é um imperativo.

Nesta semana de manifestações em todo o mundo, a Amigas da Terra Brasil (ATBr) denuncia o projeto supremacista do Estado de Israel e a impunidade corporativa por trás das violações de direitos contra o povo palestino. Condenamos os ataques contra o povo palestino e a ocupação ilegal de seu território pelo Estado de Israel, promovida com racismo, limpeza étnica, genocídio e apartheid, e nos somamos à campanha internacional pelo cessar fogo já! O massacre do povo palestino e a ausência de um fim real aos ataques militares afeta tanto a palestinos quanto a classe trabalhadora e a sociedade civil israelense, que vivem com medo e mobilizados pela liberdade de seus reféns, situação que não foi solucionada com o agravamento dos ataques à Gaza pelo Estado de Israel.

É urgente toda a nossa solidariedade ao povo palestino, que deve ser convertida em ações práticas de mobilização e pressão popular pelo cessar fogo e pelo direito de ser e de existir. A Amigas da Terra Brasil se soma à iniciativa do Movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) e convoca a quem quer o fim do massacre em Gaza e contra os palestinos a pressionar governos e desafiar megaempresas e instituições cúmplices dos crimes do Estado de Israel. Reforçamos o movimento de solidariedade global nos esforços de boicote, desinvestimento e sanções para isolar o apartheid israelense e suas instituições cúmplices em todas as frentes. 

Cobramos que o Brasil e o governo de Luiz Inácio Lula da Silva assumam compromissos  concretos em solidariedade ao povo palestino, rompendo as relações comerciais e militares com Israel. Não podemos aceitar que, após 124 países terem aprovado sanções a Israel na Assembleia Geral da ONU, incluindo o Brasil, apenas 3 países as tenham implementado: a Turquia, com a proibição da venda de petróleo, além da Malásia, que embargou o trânsito de embarcações com armamentos a Israel, e da Colômbia, que freou a compra de armas de Israel. No caso colombiano, se destaca também a posição do país em decretar o fim da exportação de carvão, fato que descontentou a Glencore, uma empresa multinacional anglo-suíça de commodities de mineração, conhecida por ser a maior companhia global de recursos naturais diversificados. A corporação não quer cumprir com a política de boicote à Israel do governo de Gustavo Petro e Francia Márquez, o que evidencia o poder das transnacionais, que não respeitam as soberanias dos Estados.  

As mesmas armas que matam a juventude negra e da periferia no Brasil, assim como ameaçam territórios de vida aqui, vêm de Israel. O avanço da militarização na América Latina, seja no sistema prisional, na contenção de manifestações civis por direitos, no treinamento militar, na violência no campo contra o campesinato e contra indígenas e povos tradicionais que lutam por seu território, têm relação econômica e comercial direta com Israel. Gaza é a maior prisão a céu aberto do mundo e após bombardeios, com novas tecnologias testadas, Israel promove feiras bélicas e lança novos produtos de guerra no mercado. O disparo que crava a morte em corpos palestinos, do outro lado do globo terrestre, tem nas armas e nas balas o selo das mesmas empresas israelenses que fazem a morte aqui. Pela soberania dos povos e pelo direito de serem e existirem, essa conexão precisa ser exposta. A luta é pela Palestina Livre do rio ao mar, e conflui entre todos territórios que resistem.

As raízes de nossa esperança estão nas décadas de resistência do povo palestino, na ampliação do poder popular que vem das comunidades nos territórios e na solidariedade internacionalista. Entre outros significados, como resiliência, a palavra árabe Sumud significa “permanecer firme na terra”. É adotada como estratégia política de resistência, assim como forma de vida palestina, entrelaçada ao território. Para que a palavra seja viva, e pela dignidade dos povos e territórios de vida, seguimos na construção dessa luta e com os punhos ao alto pela Palestina Livre.

06 de outubro de 2024: Solidariedade real com Palestina no encontro de Amigos da Terra Internacional, no Sri Lanka

Cessar fogo já! Pela libertação do território e do povo palestino!  Exigimos que o presidente Lula rompa relações comerciais e militares entre Brasil e Israel

Amigas da Terra Brasil, 10 de outubro de 2024

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